08 dezembro 2011

TOC: Preguiça ou cansaço mental?

Tem dia que não quero trabalhar.... e aí o que faço? Tem gente que chama isso de preguiça mas eu tenho muita vontade de fazer as coisas, gosto de ocupar minha mente para não dar espaço para o TOC. As vezes as pessoas ouvem essas coisas e podem pensar que quem tem TOC é preguiçoso. Mas eu pergunto: vc cansa de lavar um copo? Não, nem lavando uma louça inteira cansa muito imagina um copo. Mas e se vc lavar esse copo 5x no mesmo dia. Ah... aí começa a encher o saco. E se vc lavar 35x esse mesmo copo seguidamente? Ai cansa muito...... vc perde a vontade de lavar o copo, vc pensa 10x antes mesmo de sujar o copo para não ter que lavar depois. Isso não é preguiça, é TOC mesmo.
Um computador tem sua capacidade de processamento. Quanto mais programas vc abre para ele executar, mais consome o processamento dele até que ele começa a ficar lento e não dá mais para executar nenhum programa.
Alguns vírus ficam consumindo esse processamento só para deixar seu computador lento. Pois o vírus TOC também é assim, ele consome tanto processamento do seu cérebro que as vezes fica difícil fazer outras tarefas em paralelo e vc fica lento e cansado.
Eu trabalhava numa empresa onde não ganhava muito mas também não trabalhava muito. Resolvi mudar de empresa para ganhar mais e, claro, além de aumentar o salário também aumentou o serviço, as responsabilidades.
Nunca tive medo do TOC, nunca achei que deixaria de namorar por causa do TOC, nunca achei que jamais iria casar só porque tenho TOC. Esses medos nunca me passaram pela cabeça e o mesmo acontecia com o emprego. Até a responsabilidade de ser pai eu encarei mesmo sabendo que eu tenho TOC. Mas ultimamente estou um cagão, principalmente no emprego.
Acho que não vou dar conta de tanta responsabilidade, repito 2-3 vezes a mesma coisa e já quero desistir. Penso que cedo ou tarde vão descobrir que tenho TOC e serei mandado embora ou então que não darei conta de realizar todas as atividades dentro do prazo e "tchau emprego não tão querido mas muito necessário para sustentar uma família."
Antigamente quando alguns desses pensamentos me assombravam eu tinha uma chave chamada: Dane-se! (para não dizer outra coisa) a qual eu ligava e relaxava, ficava tranquilo....... Irresponsabilidade de quem é jovem e não precisa colocar todo dia o leite das crianças na mesa. Hoje essa chave está quebrada, não consigo ligá-la e esperar para ver o que vai dar.
E agora? Tento voltar para uma empresinha com um salário infeliz porém onde eu me sinta feliz ou fico na "empresona" (prof. Pasquale, me ajuda aqui com essa palavra) com salário bom!!! mas me borrando? Li a estória de um advogado que tem TOC e foi mandado embora do emprego porque não conseguia entregar as petições, processos, etc dentro do prazo.
Quem sabe "deixar rolar" seja a melhor opção. Se mandarem embora paciência, a culpa não é minha, o fracasso não é meu, é tudo culpa do TOC. Talvez seja a hora de eu montar meu próprio negócio, algo tão sonhado por mim e acredito que para a maioria que tem TOC.
Se alguém se compadecer e quiser me dar um emprego mesmo sabendo que tenho TOC eu agradeço :)

10 outubro 2011

Força a uma amiga com TOC

Esses dias eu conversei com uma amiga pelo chat, por enquanto uma amiga virtual porque eu a conheço somente pela internet, e ela me disse que tem TOC a 10 meses.
Fazia um tempo já que ela estava no meu facebook mas eu não conseguia conversar direito com ela. Eu deixava mensagem, depois de um tempo ela respondia parcialmente, depois sumia novamente até que finalmente consegui encontrá-la conectada.
Ela tem apenas obsessões (pensamentos invasivos) mas não tem nenhuma compulsão (nenhum ritual) e apesar disso seu TOC chega a ser mais incapacitante do que muitos TOC´s com obsessões acompanhado de compulsões. Ela parou a faculdade por causa do TOC e disse que o pensamento de que ela vai matar alguém é muito forte na cabeça dela e que isso a deixa assustada e que pensamentos de suicídio já passaram pela cabeça dela.
Ela me disse que toma medicamentos mas que eles não ajudam a afastar os pensamentos e depois de tantas perguntas que eu fiz a ela, ela me perguntou a quanto tempo eu tomo medicamento e quando eu disse que tomo a 12 anos ela disse: Eu não quero viver com TOC tanto tempo assim.
Gostei da sinceridade dela e mal sabe ela que eu vivi 20 anos com o TOC me atormentando sem tomar nenhum medicamento e que esses 12 anos que tomo medicamentos tem sido light em relação aos outros 20 anos rs.
Para quem se tornou portador de TOC depois de adulto realmente deve ser dificil aceitar esse transtorno mas para quem convive com ele desde criança ele passa a ser parte de nós e isso não é bom. A diferença é igual a uma pessoa que nasce cega daquela que se torna cega depois de adulto, ou daquela que nasce surda da pessoa que se torna surda com uma certa idade. Quando vc nasce surdo vc se adapta a isso, vc aprende a conviver com isso e faz da surdez parte da sua vida. Vc não sabe o quão bom é poder ouvir e por mais que as pessoas expliquem, ouvir parece não fazer diferença para vc. Já aquele que fica surdo depois de adulto a diferença é enorme. A pessoa não se conforma com a surdez, ela experimentou uma vida ouvindo e não sabe como lidar com a surdez. A surdez não faz parte da sua vida e ela quer arrancar esse mal a todo custo. Ela quase fica louca com a possibilidade de nunca mais ouvir na vida.
Acredito que o mesmo ocorra com o TOC. Quem tem TOC desde criança aprendeu a lidar com isso, mesmo o TOC ainda sendo um sofrimento enorme para ela e ela desejar a cura, ela não faz disso a sua meta de vida. Pelo contrário, ela leva a sua vida independente do fato dela ter TOC ou não, ela não para a sua vida por causa do TOC.
Podemos usar o mesmo paralelo para a cura. Imagina um surdo de nascença ouvindo depois de adulto? Redescobrindo o mundo através dos sons, vendo, ou melhor, ouvindo o quanto é bom ouvir, libertando-se daquilo que limitava a sua vida e ganhando uma vida nova. O mesmo ocorre com o portador de TOC que atinge não necessariamente a cura mas uma grande melhora de uns 90%.
Ele experimenta uma vida nova, livre dos pensamentos e rituais que o aprisionavam e que ele tornou parte da sua vida. E depois de experimentar essa liberdade, essa melhora de 90% ele já não se conforma mais com a doença, ele quer a cura. Aquele que desenvolveu o TOC depois de uma certa idade em que ele já tinha consciencia do como é bom viver sem o TOC também não se conforma com melhoras, ele quer a cura. Isso é ótimo desde que essas pessoas não façam disso sua razão de viver.
Existe vida após o TOC! Enquanto a cura não chega continue a viver, viva o mais normal que vc conseguir esperando em Deus pela cura do TOC.
Amiga, não sei como confortar seu coração, não sei se existe conforto para quem tem TOC que não seja a cura mas uma coisa eu sei, sozinha vc não está e se vc chegou até aqui, aguente mais uns passos até a cura.

03 outubro 2011

A cura para o TOC

Muitos devem ter ficado animados com o título do post e pensado: tá explicado porque ele não escreve desde 22/08, é porque ele se curou do TOC a abandonou o blog. Ou então: ele demorou a escreve porque estava compenetrado buscando a cura para o TOC e finalmente encontrou!.
Infelizmente não é nenhuma das opções anteriores. Se eu tivesse me curado do TOC não iria abandonar o blog jamais e se eu tivesse achado a cura para o TOC, além de ficar rico, claro que iria compartilhar com vcs a fórmula mágica para curar o TOC. Mas não existe fórmula mágica para curar o TOC, na verdade nem sei se existe cura para o TOC.
Sei que é horrível ler essa frase, é desesperador imaginar que o TOC não tem cura e que vc vai ter que conviver com essa merda o resto da sua vida. Mas tudo tem seu lado positivo e negativo, desde a pilha que tem o lado positivo e negativo, passando pelos polo sul e polo norte até nós seres humanos (não é a toa que existem os bipolares).
O lado ruim todo portador de TOC já conhece, então nem preciso descrever, só quem tem TOC sabe o sofrimento que essa doença nos traz. O lado positivo é que existem várias doenças que também não tem cura, que a pessoa tem que conviver com ela para o resto da vida mas que algumas atitudes ajudam a controlar a doença e a se ter uma qualidade de vida melhor.
Hipertensão não tem cura, vc precisa tomar remédio o resto da vida e fazer dieta pobre em sal. Diabetes também não tem cura, alguns casos basta um controle na quantidade de açucares que vc ingere e outros exigem que vc tome insulina para o resto da vida mas ambas permitem que vc conviva com elas por anos, tendo uma qualidade de vida ótima.
Com o TOC não tem o porque ser diferente. Creio que algumas dicas possam ajudar a amenizar o TOC e melhorar um pouco a qualidade de vida de seus portadores e familiares.
- Procurar um médico psiquiatrico: É comprovado que antidepressivos com ação inibidora da recaptação de serotonina tem ação antiobsessiva mostrando que o baixo nivel desse neurotransmissor é um dos responsáveis pelo TOC. A dosagem do antidepressivo varia de pessoa para pessoa e cada uma responde de um jeito;
- Comer alimentos ricos em triptofano: A serotonina é formada a partir de um aminoácido precursor, o triptofano, proveniente de alimentos que apresentam um alto conteúdo de proteínas, como, por exemplo, a carne então uma dieta rica em alimentos que fornecem uma base para a formação da serotonina colabora para o aumento desse neurotransmissor;
- Fazer exercícios: Sei que para muitos essa palavra é terrível mas exercício é bom para tudo e a falta de exercícios sempre traz um problema ou outro. Cuidando da saúde física vc acaba melhorando a saúde mental "corpo sã em mente sana";
- Fazer algo que vc goste: O TOC é algo que odiamos, ele nos traz angustia, sofrimento, ansiedade, além de pensamentos que odiamos e abominamos mas não conseguimos nos livrar desses pensamentos e quanto mais tentamos mais dificil fica. Então o jeito é ignorar esses pensamentos e a melhor maneira é fazendo algo que gostamos. Enquanto estamos numa atividade que nos dá prazer acabamos esquecendo por alguns minutos os pensamentos invasivos e isso já é o suficiente para nos dar força de prosseguir mais um dia. É extremamente importante dedicarmos um tempo só para nós já que dedicamos quase todo o nosso dia aos outros, tentando salvar suas vidas, não provocando um cataclisma ao deixar de realizar os rituais.
- Terapia: Sempre falo e continuo falando, TCC é uma ótima terapia para quem tem TOC. A TCC te ensina a lidar com esses pensamentos invasivos, a controlar e lidar com a ansiedade e a reorganizar os neurônios que estão condicionados a realizar rituais cada vez que vem um pensamento invasivo de modo que os mesmos ignorem esses pensamentos e não permitam que a ansiedade aumentem quando não se realiza um ritual.
Acho que com essas 5 dicas não é possível curar o TOC mas talvez controlá-lo ao invés dele controlar sua vida. Todo portador de TOC é perfeccionista por isso ele busca a perfeição, que seria a cura. Tente controlar seu TOC começando por esse ítem, tentando não ser tão perfeccionista, tão exigente consigo mesmo buscando a cura. Não perca seu tempo buscando a cura e nem desanime ou se desespere ao encontrar em vários lugares que o TOC não tem cura. Procure a melhora aos poucos até chegar ao seu máximo, mesmo que esse máximo não seja 100% pois nem tudo precisa ser 100% para ser ótimo.

22 agosto 2011

TOC: Uma doença ou uma frescura psicológica?

Entre 2,5 e 3% da população do Brasil e de Portugal (pois sei que Portugal também acompanha meu blog) deve ter ficado indignada com esse título porque sabe a resposta. Os outros 97% devem ter ficado curioso para saber a resposta ou então devem achar que sabem a resposta mas não sabem não. Dentre os leitores do meu blog acredito que esse número seja maior, uns 90% dos leitores devem ter ficado indignado e os outros 10% devem estar curioso.
Se vc faz parte dessa porcentagem que não gostou do título porque sabe que TOC é uma doença é porque vc é um portador de TOC. Se vc ficou curioso ou acha que TOC é uma frescura aqui vai a oportunidade de vc aprender e se esclarecer.
Não gosto de chamar o TOC de doença mas sim de transtorno como o próprio nome diz. Por ele não ser uma doença ele não tem cura, mas tem controle e esse controle pode fazer com que 100% das obsessões ou compulsões desapareçam.
Por ele não ser uma doença muitas vezes não demonstramos os sintomas, ou melhor, os sintomas não são visíveis para as demais pessoas. Por esse fato quem não tem TOC ou não tem contato direto com quem tem TOC acha que a pessoa não sofre com isso. O portador de TOC não tem cara de dor como alguém com cólica renal ou com as contrações do parto. O portador de TOC não é pálido, apático como algúem que tem anemia ou outro problema similar. O portador de TOC não manca, não anda de bengala e nem de cadeira de rodas como em algumas deficiencias física mas ele sofre do mesmo jeito. Ele sofre mesmo com um sorriso no rosto, ele sofre mesmo sendo alegre, divertido, engraçado. Ele sofre por dentro, calado, sozinho, ele grita mentalmente, sem abrir a boca e por isso niguém escuta seu grito de dor.
Por esse motivo muitos acham que TOC é uma frescura, é carência e que fazemos os rituais para chamar a atenção. Pensam que podemos parar a hora que quisermos, que tudo isso não passa de invenção da nossa cabeça. Quase acertaram, realmente é algo de nossa cabeça mas não gerado por nossa própria vontade. Não somos loucos, tanto que temos consciencia de que nossos pensamentos obsessivos e rituais são absurdos e por isso temos vergonha e procuramos ocultar isso dos familiares, nos escondemos das demais pessoas para realizar tais atos mas não conseguimos nos controlar e evitá-los. Por esse motivo interpretamos tal necessidade como "mania", uma espécie de loucura, fraqueza, desvio da conduta ou perversão, o que aumenta a auto-crítica e os sentimentos de culpa.
Já temos problemas demais com esse transtorno e com o sentimento de culpa, não nos sobrecarregue ainda mais com seus julgamentos ou intolerância. A melhor forma de ajudar um portador de TOC é acreditar que isso é um transtorno, que é mais forte que nós, que realmente não faz sentido o que pensamos ou fazemos mas que é muito difícil enfrentarmos nossos temores até mesmo para confirmar que são infundados, o que permitiria a nós nos livrarmos dele.
O TOC não deixa marcas visíveis e por isso todos acham que estamos sempre bem mas ele machuca por dentro, abre feridas internas que mereçem atenção tanto quanto as demais feridas.

21 julho 2011

Mudança: palavra que deveria ser riscada do dicionário do portador de TOC

Sei que estou devendo um post faz tempo. Passaram-se mais de um mes desde o último post mas é que mudei de emprego e como se não bastasse uma mudança ainda mudei de cidade também. No próprio filme "Melhor Impossível" vemos como o personagem se irrita com as mudanças. Ele gosta de comer no mesmo lugar, sentar-se no mesmo lugar e ser atendido pela mesma garçonete e quando uma variável muda ele se sente perdido e a ansiedade aumenta.
Isso é porque gostamos de ter o domínio da situação e não gostamos quando pisamos num terreno desconhecido ou quando o script muda, mesmo quando sabemos de ante-mão que ele vai mudar.
Nunca deixei o TOC limitar a minha vida, pelo contrário, muitas vezes limitava o TOC para que ele não limitasse minhas decisões mas fui pego de surpresa. Cansado da mesmiçe da vida, principalmente na vida profissional, não me dei conta que os anos se passaram, que envelheci e apesar dessa mesmiçe me fazer mal a vida, ela me fazia bem ao TOC e resolvi trocar de emprego. Durante 6 anos vivi praticamente a vida profissional de um funcionário público que aguarda pacientemente, sentado em sua mesa, a sua aposentadoria e não tinha pretensão de mudar de emprego mesmo reclamando
dele dia-a-dia.
Fui levado pela correnteza e tudo aconteceu tão rápido que quando me dei conta já estava cumprindo o aviso prévio. Estava feliz por um lado pois nem 1% de aumento a empresa me ofereceu para eu ficar e estava saindo para ganhar 50% a mais mas por outro lado preocupado pois me dei conta que iria não só mudar de emprego como também de cidade.
Assim como a donzela espera ansiosamente pelo seu cavalheiro vir resgatá-la num cavalo branco, eu esperava que uma empresa da minha cidade que me chamasse para fazer a entrevista e me salvasse de mudar de cidade. O cavalo branco não apareceu e eu caí do cavalo.
Estou aqui sozinho, sem amigos, sem conhecidos, sem meu posto de gasolina de confiança, sem a minha padaria predileta. Onde vou tomar meu cafezinho de todo dia? Como vou pedir "o de sempre" para alguém que nem me conhece? Cadê aquela farmácia que tem o melhor preço onde compro quase sempre? Estou me sentindo como um estrangeiro em seu próprio país.
Para que passar por tudo isso? Já não me basta o TOC e ainda tenho que passar por nova adaptação no emprego, fazer novas amizades, descobrir onde ficam as padarias, visitá-las e escolher a que mais me agrada e acima de tudo sozinho?
Tudo por causa de um salário maior? Dinheiro não é tudo, mas sem ele não fazemos nada! O dinheiro não pode curar um portador de TOC mas pode lhe dar uma vida com uma qualidade muito melhor.
Claro que além de um salário novo tem também o lado de ser uma nova experiência, novas oportunidades de aprendizado, novas amizades, novas aventuras. O que será que as pessoas tem contra o velho? Agora acho que trocaria o novo pelo velho :(. Panela velha é qua faz comida boa, velhos e bons amigos, sapato velho não aperta o pé, etc.
Será que não gostar de mudança é uma caracteristica de quem tem TOC ou é a idade chegando? Alguém que tem TOC, que seja novo ou "na melhor idade", poderia me ajudar nessa questão? Quem não tem TOC poderia também me ajudar? Um alguém jovem e outro alguém já mais vivido?
Bom, já que usei tantos clichês nesse post, vou usar mais um: dia melhores virão. Somente crendo que depois da tempestade vem um dia lindo de sol é que conseguimos continuar em frente.
Quem sabem um dia eu não acordo, me levanto e o TOC fica alí deitado, para sempre?

03 junho 2011

Jogo de Xadrez

Para mim a vida as vezes é como um jogo de xadrez. Nunca havia parado para pensar, mesmo porque não conhecia outras pessoas com TOC então não sabia que isso que eu fazia era específico de quem tem TOC mas depois começei a perguntar para as pessoas que tem TOC e as que não tem e vi que quase todos os portadores de TOC imaginam situações que ainda nem aconteceram como se fosse um jogo de xadrez. Explico melhor: Nós portadores de TOC temos a mania de criar todo o desenrolar de uma situação que ainda não aconteceu como se ela estivesse acontecendo naquele momento e ficamos imaginando como iriamos responder se a outra pessoa fizesse tal ação e qual ação a pessoa tomaria se respondessemos dessa maneira. As vezes quando estou dirigindo não preciso levar uma fechada para iniciar esse processo, basta eu ver outro carro fazendo alguma coisa de errada com um terceiro carro e já começo a imaginar a cena se essa situação fosse comigo. Imagino a pessoa entrando na minha frente com o carro e eu teria duas opções: frear bruscamente ou desviar de lado. Como num jogo de xadrez imagino as duas situações na minha mente: se eu freasse bruscamento então o de trás teria que frear também. Se eu desviasse teria que fechar o carro ao lado. E também imagino o que os carros de trás e do lado teriam que fazer se eu tomasse uma dessas decisões e então baseado nas decisões que eles poderiam tomar eu também teria que tomar outras e essa bola de neve de opções de reações e as possíveis causas e efeitos vai crescendo até eu me dar conta de que estou imaginando uma situação que nem aconteceu.
É comum também quando alguém me conta, por exemplo, sobre um assalto em que a pessoa foi baleada e já começo imaginar um ladrão entrando na minha casa e aí eu pegaria uma arma (que nem possuo) e me esconderia atrás da escada e ele subindo as escadas, eu chegando por trás dele e renderia ele. E se ele tivesse um comparsa então eu daria uma gravata nele e me protegeria com o corpo dele do seu possível comparsa assim se ele atirasse pegaria no amigo dele e então eu atiraria nele. Ou então imagino ele entrando, eu chamando ele para ele se virar para mim então eu atiraria nele e aí pegaria a arma dele e atiraria na parede para simular uma possível legítima defesa e então..... por aí vai. Parece uma viagem e na verdade viajo nesses pensamentos até chegar nos possíveis desfechos ou então até eu acordar e me ligar que esses pensamentos não vão me levar a lugar nenhum.
Acho que já vivi toda e qualquer situação através desses pensamentos. Estou mais preparado (pelo menos na teoria) para um assalto do que qualquer pessoa do grupo SWAT. Sou capaz de escapar de qualquer acidente de trânsito pois já vivi todas as situações possíveis e seus possíveis desfechos para cada ação tomada rs.
É isso aí, quem já viveu essas situações malucas em que vc começa a imaginar ações e reações e destrincha isso como uma jogada de xadrez põe a mão aqui.

18 abril 2011

Saco cheio (Estudo de Caso)

Antes tarde do que nunca, o mês de abril está quase acabando e nada de uma nova postagem mas andei um pouco ocupado com o trabalho, lendo cada caso de cada pessoa que me enviou sua estória por email - queria agradecer a todos que me enviaram email contando sua estória pela confiança depositada em mim- e também correndo atrás de ajudar os indefesos coelhos que no mês de páscoa eles sofrem muito pois para promover a páscoa muitas pessoas esquecem que coelhos de verdade sentem dor de verdade, frio de verdade, esquecem até de que eles são de verdade.
Mas voltei para postar mais um caso que um amigo, colega de TOC, me contou e permitiu que eu postasse aqui. Vou chamá-lo de Fernando (nome fictício).
O Fernando me contou que também começou seus rituais quando era criança, como acontece com a maioria das pessoas que tem TOC. Além do TOC ele também tinha a síndrome de Tourette - comum também de aparecer na infância e concomitantemente com o TOC -  ficava fazendo sons com a boca, alguns sons eram baixos e outros mais altos e apesar das pessoas olharem quando ele vocalizava algum som mais alto isso não era o que mais lhe incomodava. Seus rituais tomavam boa parte de seu tempo e muitas vezes o colocava em situações constrangedoras. Uma de suas piores manias era a de pegar quase tudo o que ele via no chão e guardar na cueca. Pegava papel de bala durante o "recreio" na escola que estavam no chão e disfarçadamente os colocava na cueca. Folhas secas e pequenos gravetos também iam para a sua cueca. Enquanto voltava a pé para casa tinha o costume de pegar pedaços de papel, folhas, tudo o que era pequeno e guardar na cueca. Claro que isso o incomodava, tinha medo me pegar alguma alergia ou dermatite mas a compulsão era maior do que seus medos. Era comum durante a aula ele "ajeitar" sua coleção de coisas e frequentemente alguns pedacinhos caim da cueca de volta no chão. Na hora de fazer xixi ele tinha que abaixar com cuidado a cueca para não deixar tudo cair no buraco da privada. Claro que não demoraria muito tempo com essa compulsão sem que algo desse errado e o colocasse em uma situação constrangedora. Um dia ele estava no colégio e sua tia que trabalhava no mesmo colégio resolveu levá-lo, junto com outros meninos, até o posto de saúde para serem vacinados contra sarampo pois estava tendo uma campanha. Chegando lá ele descobriu que a vacina era aplicada nas nádegas e não no braço como na maioria das pessoas e gelou ao imaginar a idéia de ter que abaixar a cueca para ser vacinado. Fernando me contou que ele morre de medo de agulha - até hoje - mas que naquela hora o que ele menos pensava era na agulha. Sua mente começou a trabalhar para tentar descobrir uma maneira de não ser descoberto com todas aquelas folhas e papeis em sua cueca ou que desculpa daria para ter tudo aquilo armazenado. Teve a idéia de ir até o banheiro e jogar tudo no lixo mas antes mesmo de dar o 1o passo foi chamado para a sala de vacinação. Ele entrou suando, a enfermeira percebeu seu mal estar e disse que não precisava ter medo da injeção pois tudo acabaria muito rápido. Como ele estava congelado de medo a enfermeira rapidamente abaixou apenas 2 dedos de sua calça, aplicou a injeção e pronto! Fernando estava livre da injeção e do vexame pois não teve que abaixar as calças. Além desse episódio, Fernando passou por outro apuro quando fazia aula de kung-fu. Ele sempre ia a pé até a aula e no caminho foi colecionando folhas e papeis. Chegando na academia o professor pediu que eles corressem em círculos para aquecer e conforme Fernando começou a correr, os pedacinhos de folhas e papeis começaram a escorregar pela calça do agasalho e cair no chão. Ele até tentou recolher alguns para eram muitos e o pessoal começou a perceber que o chão estava ficando sujo. O professor recolheu alguns papeis e perguntou se alguém havia estado em algum baile de carnaval pois por mais que ele recolhesse os "confetes" continuavam a aparecer. Fernando se fez de desentendido, pediu ao professor para ir ao banheiro e jogou toda sua coleção no lixo. Ao voltar o professor lhe disse que precisava falar com ele depois da aula. Fernando, como todo portador de TOC, ficou durante toda a aula imaginando se o que o professor queria falar era algo relacionado aos papeis. No final da aula o professor se ocupou com outras coisas e Fernando precisou ir. O professor nunca mais tocou no assunto e Fernando muito menos.
Fernando contou que seu pai é um homem a moda antiga e assim como os antigos "curavam" os canhotos amarrando sua mão esquerda para que escrevesse somente com a direita, o pai do Fernando tentava curar seu TOC batendo nele cada vez que ele chegava com a cueca cheia de papeis e folhas. Todo dia quando Fernando chegava em casa seu pai fazia ele descer as calças e se encontrasse folhas ou papeis ele apanhava. No começo Fernando me disse que as vezes esquecia de esvaziar a cueca e apanhava mas com o tempo foi se habituando a esvaziar a cueca antes de chegar em casa. Era melhor correr o risco de passar vergonha esvaziando a cueca na rua do que apanhar em casa.
Identifiquei-me com a estória dele pois também já cheguei a apanhar do meu pai por causa do TOC.
É, o TOC nos deixa de saco cheio, as vezes literalmente

25 março 2011

Quando o TOC começou

Não sei se todos leram mas na página Quando tudo começou eu relato como meu TOC começou. Não quando eu descobri que tinha TOC mas sim quando notei em mim meu 1o sintoma de TOC. Sei que não é fácil muitas vezes lembrarmos quando foi que nossas esquisitiçes começaram mas eu lembro nitidamente de poucas imagens de quando eu estava no pré e em nenhuma delas eu estava fazendo algum tipo de ritual. Já meu 1o sintoma, quando estava na 1a série, nunca me saiu da cabeça e desde esse dia em diante eu  me lembro que sempre minha vida foi marcada por pensamentos, medos e rituais.
Eu também já disse em algum post que nunca conheci pessoalmente outra pessoa que tivesse TOC, na verdade, antes de criar esse blog eu nunca havia conhecido, nem virtualmente, outra pessoa com TOC. Depois do blog continuo sem conhecer pessoalmente outro portador de TOC mas virtualmente já conheço várias pessoas e todas elas são amáveis e inteligentes como eu rs. Como é bom conhecer pessoas parecidas conosco - não somente em relação aos adjetivos "amável" e "inteligente" - mas pessoas que compartilham do mesmo problema, das mesmas dúvidas, do mesmo sofrimento e todos prisioneiros do seu próprio cérebro.
Todo mundo gosta de ouvir estórias parecidas com as suas e saber que não está sozinho, que não é nenhum alienígena em meio aos terráqueos. Se não fosse assim não existiria o grupo dos AA, ou então o grupo dos Narcóticos Anônimos então porque não criar o grupo virtual dos POTA - Portadores de TOC anônimos?
Gostaria de que, cada um que lê esse blog ou segue esse blog, contasse sua estória de como seu TOC começou, deixando-a nos comentários. Pode ser de forma anônima como o nome do grupo sugere, pode ser usando um pseudônimo ou então com seu próprio nome. O importante é tentar lembrar quando seu TOC começou afinal para se chegar à cura no final temos que saber como foi o início, talvez a resposta esteja onde tudo começou.

Podem ter certeza que eu lerei todas as estórias aqui postada e com certeza me será de grande valia assim como também será de grande valia para outras pessoas que por aqui passarem e lerem.
Grato,
Miguelito

21 março 2011

A viagem de trem inesquecível (Estudo de caso)

Já falei muito de mim e dos meus rituais e agora vou contar a estória de uma outra pessoa. Ela me contou um dos seus piores rituais e me autorizou publicar aqui. Vamos chamá-la de Vanessa (nome fictício).
Vanessa começou seus rituais ainda criança mas não se lembra exatamente quando começou. Sabe que tinha pensamentos estranhos e que tinha que realizar certos rituais para que esses pensamentos à deixassem um pouco mais sossegada. Não eram vozes que mandavam ela fazer coisas que ela não queria, eram pensamentos mesmo, oriundos de sua própria mente e que, apesar de desafiar o lógico, faziam com que ela sentisse a necessidade de tocar em tudo o que via para que esses pensamentos não se tornassem realidade.
Ela começou tocando nos postes enquanto caminhava até a escola. Não eram todos, somente quando vinha um pensamento que sua mãe morreria ou poderia ter câncer é que ela tocava no 1o poste que via pelo caminho. Se o poste estava do outro lado da rua ela se via obrigada a atravessar a rua para tocar nesse poste. Quando ela tentava resistir, uma grande aflição atordoava sua mente. O ritmo do coração acelerava e junto dele os pensamentos de morte aceleravam também. Era como se ao se recusar a tocar no poste ela tivesse cortado o fio errado da bomba relógio que estava presa ao corpo de sua mãe e a contagem regressiva tivesse acelerado. Mais que depressa ela voltava para tocar naquele poste e a contagem regressiva parava.
Com o tempo ela foi tocando em outros objetos também além dos postes. Tocava no paralelepípedo da rua, voltava o caminho só para tocar na lombada que ela havia acabado de passar, tocava nas folhas e flores das árvores. Esse ritual também era realizado dentro de casa e ela sentia necessidade de tocar na vasilha com a comida do gato. Se fosse hoje Vanessa não sofreria tanto com a ração para gatos mas naquela época sua mãe costumava cozinhar sardinha e misturar ao pão para dar aos gatos e ela mergulhava seu dedo naquela mistura húmida e morna que os gatos comiam até tocar o fundo da tigela. De tanto fazer isso seus dedos ficavam com um aroma que atraia vários gatinhos (literalmente). Nas épocas de maior ansiedade ela começou a tocar na água do vaso sanitário. Procurava encostar o mínimo possível na água mas sentia a necessidade de pelo menos molhar a pontinha da unha na água.
Eu diria que isso é um paradoxo pois existe a obsessão com limpeza onde há uma preocupação excessiva com sujeira, germes ou contaminação e a pessoa tem compulsão por lavar as mãos ou não tocar em algo que acha que está contaminado. No caso de Vanessa ela lavava sim muito as mãos mas era por causa da compulsão que a obrigava a tocar em coisas sujas e não por medo de contaminação.
Uma vez quando ela voltava com sua mãe e seu irmão de trem para casa ela sentou na janela e viu a janela suja de vômito e sentiu uma necessidade enorme em tocar naquele vômito. Seu corpo lutava contra sua mente mas a proximidade com o vômito fazia com que ela, apesar se sentir enjoo, se sentisse mais tentada a tocá-lo. Após uma luta interior enorme ela, com muito esforço, levantou a mão e tocou bem de leve com a ponta de sua unha naquele vômito seco e desconhecido e tirou a mão rapidamente. Mas o TOC é astuto e maquiavélico e quanto mais corda vc der a ele maior será a forca que ele preparar para vc e antes  mesmo que ela pudesse respirar aliviada outro pensamento invadiu sua mente para que ela tocasse agora com a ponta de sua lingua.
Ela balançou a cabeça e torceu o nariz num gesto de nojo e pensou: isso eu não posso fazer. Mas e se alguém morrer por causa disso? E se EU morrer por tocar nesse vômito?
O tempo foi passando, sua luta foi aumentando até que finalmente sua estação chegou e sua mãe a puxou para descer do trem. Nesse ponto qualquer um sentiria-se aliviado por descer do trem sem tocar o vômito com sua lingua mas quem tem TOC não é qualquer um e ao invés do alívio Vanessa sentiu uma enorme ansiedade e sentimento de culpa. O trem fechou as portas e seguiu e Vanessa não conseguia andar, ela precisava de alguma forma anular o efeito daqueles pensamentos. Milhões de cosias lhe vinham a cabeça e ela foi seguindo sua mãe e seu irmão meio aos rituais mentais e compulsões que ela deixava pelo caminho.
Sua ansiedade foi passando..... seu coração foi voltando ao batimento normal e Vanessa descobriu que ninguém morre por uma crise de ansiedade, por mais que parece o contrário, e que graças a Deus sua mãe e seu irmão estão vivos até hoje :)
Essa estória me foi contata por uma amiga que tem TOC e eu, além de trocar seu nome, contei à minha maneira porém mantendo a veracidade. Esse episódio não foi o suficiente para que Vanessa eliminasse suas compulsões mas com certeza se alguém, nessa época a tivesse incentivado a lutar mais vezes contra seu TOC ela teria vencido essa ansiedade inicial que se tem quando não se consegue realizar um ritual e talvez estaria curada. Ela me disse que isso a ajudou, pelo menos, a lutar contra esses rituais bizarros e a não realizá-los. Mas porque lutar somente contra os bizarros como esse? Porque não lutar contra todos os rituais?
Essa é uma pergunta que não tem resposta certa, somente cada portador de TOC é capaz de dar essa resposta a si mesmo.

09 março 2011

Altos e baixos

Caros leitores, sei que fiquei muito tempo sem escrever, fiquei um mes inteirinho sem escrever mas é que meu trabalho estava na correria pois precisavamos entregar algo antes do carnaval e conseguimos :). Agora que o ritmo voltou ao normal gostaria de escrever 4x por mes ou no mínimo 3x por mes. Acho que a minha criatividade também estava baixa e não sabia sobre o que escrever. É interessante pois os portadores de TOC geralmente são criativos, além de inteligentes então não sei se é bom ou ruim essa falta de criatividade, não se indica que o TOC  também está sumindo junto com a falta de criatividade ou não. O pior de tudo é se junto com a criatividade e com o TOC a inteligencia se for também rs.
Mas o que eu queria dizer mesmo é que meu estado de espírito, meu humor, meu TOC, quase tudo oscila muito em minha vida. Fiz até um gráfico para tentar expressar mais ou menos como seria meu humor com o passar do tempo. Nâo classifiquei se o tempo medido é em dias, horas ou minutos pq iss otb varia. Tem épocas em que esse gráfico pode ser medido em meses....outras épocas posso dizer que essa variação se dá em semanas mas as vezes a únidade de medida do tempo é em dias mesmo. Meu humor varia de um dia para o outro dependendo de como foi o dia no trabalho, de como dormi a noite, do que tenho que fazer durante a semana, etc.
Se as mulheres reclamam que seu humor variam no período da TPM que dirá aquelas que além da TPM também tem TOC?. Nós homens que temos TOC entendemos um pouquinho desse universo feminino no período da TPM, como é triste algo dentro da gente e fora do nosso controle ditar como estará nosso estado de espírito nos próximos minutos.
Essa ansiedade e essa irritabilidade nos deixam sensíveis a ponto de estourar com apenas uma palavra negativa. E quando nos atrapalham no meio dos rituais ou compulsões? O ódio de ter que recomeçar os rituais nos fazem ferver e nos cegam e acabamos sendo grosso e estúpido, muitas vezes querendo que os outros também entrem em nossos rituais e os sigam.
Mas ainda bem que são altos e baixos e não somente baixos. Quando estamos no fundo do vale, na parte mais baixa do gráfico de Estado de Espírito devemos lembrar que isso significa que estamos prestes a subir no gráfico, que não tem como piorar nosso humor e que nesse altos e baixos, quanto mais baixo estamos mais próximos da subida estamos também. Quando atingimos o fundo é porque vamos começar a subida até atingir o topo e até lá é só alegria :)
Temos que aproveitar esses momentos de "altos" para produzir, fazer tudo o que não conseguimos fazer quando estávamos nos "baixos" e quando estamos nos "baixos" devemos nos concentrar na subida, ter como meta o topo do humor.
Quero contar algumas estórias minhas relacionadas aos rituais e também de outras pessoas portadoras de TOC (sem citar nomes) para que aqueles que tem TOC possam se identificar mais e aqueles que não tem possam entender um pouco mais do universo do TOC.
Nâo me orgulho do meu TOC mas me aceito do jeito que sou.

28 janeiro 2011

Bom dia para quem?

As vezes eu acordo assim: cara de sono, mau humor, com o TOC quase nível 5 na escala Richter (ou atacado como costumo dizer) e ainda tenho que enfrentar um dia inteiro pela frente. Tento me animar me dizendo que é só mais um dia e ele passa rápido mas lembro que finalizada a batalha de hoje ainda terei a batalha de amanhã.
Geralmente sempre sou bem humorado mas o TOC é umas das poucas coisas que conseguem tirar meu bom humor. Eu levanto e começo a fazer meus rituais, ir e voltar do banheiro, tento descer as escadas sem pensar em algo ruim etc, então enquanto estou me trocando, me arrumando ou descendo a escada estou tanbém fazendo meus rituais e tentando não pensar nada ruim e com isso acabo fazendo muitas coisas sem pensar. É inevitável que eu não me esqueça de algo afinal já é dificil não esquecer nada tentando pensar em tudo o que precisa fazer ou pegar, imagina fazendo tudo isso tentando não pensar em nada? Vou descendo as escadas, me atropelando nos degraus, lavando as mãos no lavado e subindo novamente e quando finalmente consigo descer as escadas lembro que esqueci algo que preciso lá em cima :(. Volto para pegar e começa tudo novamente. Finalmente consegui descer as escadas de novo e agora tento sair, fechar a porta correndo e entrar rápido no carro antes que sinta que tenha que voltar novamente para lavar as mãos no lavabo. Tento, enquanto entro no carro, já ir ligando o carro, colocar o cinto de segurança e abrir o portão automático mas se torna impossivel fazer 3 coisas ao mesmo tempo que dirá misturar tudo isso aos rituais e pensamentos. Para ajudar a chave do carro cai enquanto eu tentava entrar no carro e tenho que sair novamente do carro, abrir a porta e voltar para lavar as mãos. O TOC sempre sacaneia a gente então depois de ir e voltar do lavado tentando sair e fechar a porta quando finalmente consigo sair minha blusa enrosca na porta e sou obrigado a abrir a porta para soltá-la. Ai que ódio, vontade de ir somente com metade da camisa para o trabalho mas abro a porta novamente e isso implica em começar novamente o lava-mão, tenta-fechar-a-porta, lava-mão. Conseguido entrar no carro e ligá-lo enquanto coloco o cinto e abro o portão já vou andando com o carro antes mesmo do portão abrir por completo. As vezes me pego agachando dentro do carro achando que desse modo conseguirei passar por debaixo do portão antes mesmo que ele abra, tamanha a vontade de sair correndo. Nessas alturas já estou suando bicas, pricipalmente nesse calor e meu condicionamento está melhor do que se eu tivesse feio 40 minutos de esteira mas vamos em frente pois ainda mal começou o dia.
Vou seguindo para o trabalho meio aos pensamentos e rituais mentais, graças a Deus não tenho outros rituais enquanto dirijo. Quando chego no trabalho abro e fecho várias vezes a porta do carro, não sei mas acho que tenho sérios problemas com portas, se todas fossem automáticas que bom que seria a minha vida. Já cansado de fechar a porta e ir e voltar até o carro me deparo com a escadaria de 80 degraus!!!! para chegar do estacionamento até o prédio. Subo os degraus meio rapidinho (meu condicionamento físico não permite que eu vá mais rápido) e dou glórias a Deus que com essa escada eu não tenho o mesmo problema que tenho com a escada de casa (quero comprar uma casa plana, sobrados me torturam muito). Cheguei ao prédio e trabalho no 2o e último andar claro e para isso são mais 40 degraus até o 2o andar - descobri porque odeio escadas - mas antes disso tem a catraca que vc precisa passar o crachá antes de entrar. Por falar em crachá, cadê o meu? O TOC me sacaneou novamente e esqueci ele no carro, abri e fechei várias vezes a porta do carro mas em nenhuma delas lembrei de pegar o crachá pois estava preocupado em não pensar em algo ruim :(. Aposto que passou pela cabeça de voces um filminho voltando tudo novamente, abrindo a porta do carro e fazendo todos os rituais novamente. Pela minha também e claro que a decisão foi: Nem pensar!
A catraca é eletrônica e não precisa do crachá para liberá-la, somente é necessário para que ela não apite e não tire uma foto sua entrando sem ter passado o crachá. Então tudo bem, passo sem crachá, ela apita e antes de tirar a foto dou um sorrisinho :) - para, pelo menos, sair bem na foto.
Chego a minha mesa cansado, sinto como se tivesse vindo rolando, despencando morro abaixo, tropeçando, sendo jogado de um lado para outro pelos carros da avenida até chegar ao trabalho e vejo no MSN a mensagem de BOM DIA feita com aqueles emoticons floridos e piscantes e penso: Bom dia para quem?

18 janeiro 2011

Livre para ser obsessivo-compulsivo

Descobri que eu não me importo de ter TOC e desisti de lutar para me curar 100% e ser uma pessoa normal pois pessoas normais não existem. É bem válido aquele ditado que diz que "de médico e louco todo mundo tem um pouco". Nos 5 anos de faculdade eu tive algumas aulas de psicologia e logo no início precebi que todo comportamento humano podia ser enquadrado em uma patologia e afirmei à professora que dessa maneira ninguém seria normal e ela disse que é verdade isso mas se a pessoa vive bem na sua "anormalidade" não há porque procurar ajuda e mudar. Somente devemos procurar ajuda para mudar se nossas patologias nos afetam ou afetam as demais pessoas.
Eu convivo com o TOC a muitos anos, ele já faz parte da minha vida e não consigo me lembrar de como era a minha vida antes do TOC e também não consigo imaginar como seria ela sem o TOC. Acho que sofro da Síndrome de Estocolmo pois o TOC sequestrou a minha mente e me mantém cativo e essa relação de amor e ódio se arrasta a tanto tempo que não consigo vislumbrar minha vida sem o TOC.
Se eu pudesse ao menos ter mais liberdade com o TOC, se eu pudesse pular as rachaduras no chão sem me esconder, disfarçar ou dar satisfações, se eu pudesse voltar quantas vezes fosse necessárias para conferir, se eu pudesse abrir e fechar a porta do carro quantas vezes eu precisasse sem olhares estranhos já seria um alívio imenso. Se eu pudesse realizar meus rituais quando eu quisesse ou quando tivesse tempo, se fosse possível dar uma pausa nos rituais e pensamentos para realizar tarefas importantes e urgente e depois recomeçar de onde parei nem me importaria muito com o TOC.
Já cheguei num nível satisfatório em relação ao meu TOC em que, apesar de eu ainda ter TOC ele não me atrapalhava. Tinha dúvidas se havia fechado ou não a porta como a maioria das pessoas mas puxando pela memória conseguia lembrar de um fato que me certificava que havia fechado a porta e não voltava para verificar. Gostava das coisas organizadas mas não necessáriamente alinhadas ou simétricas. Apesar de ainda ter TOC era algo que não me atrapalhava e permitia levar uma vida "normal". Depois de um tempo mesmo tomando remédios os pensamentos e rituais foram se tornando mais pertinentes, nada comparado com antes quando eu não me tratava mas o suficiente para o TOC voltar a me incomodar.
Hoje, após muitos anos buscando a cura, busco apenas voltar àquele estágio em que eu tinha pensamentos e rituais mas era livre para ser obsessivo-compulsivo, sem me importar com os rituais, sem me importar com o olhar recriminatório e curioso das pessoas. Pois buscar a cura de forma "obsessiva", querer o perfeccionismo é mais uma caracteristica dos portadores de TOC e para me livrar dele preciso me livrar dessa caracteristica :).
Não me importo em ser diferente igual a todo mundo, eu quero é ser livre.

01 janeiro 2011

Feliz Ano Novo


Queria desejar Feliz Ano Novo a todos que acompanharam meu blog em 2010 e àqueles que irão acompanhá-lo em 2011 :)
Nada melhor do que começar o ano com uma música do Casting Crowns que foi indicação de minha amiga Amanda. Segundo ela "essa música expressa de forma perfeita" o sentimento em relação ao TOC e eu concordo com ela plenamente.
Segue a tradução da música e o link para ela no youtube:

Me Liberte

Nunca foi sempre assim
Eu lembro de dias brilhantes
Antes da escuridão que veio
Roubou minha mente
Amarrou minha alma com correntes

Agora eu vivo entre os mortos
Lutando contra as vozes em minha cabeça
Esperando que alguém me ouça chorar à noite
E me carregue pra longe

Me liberte das correntes que me seguram
Tem alguém lá fora me ouvindo?
Me liberte

A manhã chega, um outro dia
Que me encontro chorando na chuva
Sozinho com meus demônios estou
Quem é este homem que vem na minha direção?
Os escuros gritam
Eles gritam Seu nome
É Ele o quem dizem que vai libertar os cativos?
Jesus, salve me!

E quando o homem Deus passou por mim
Ele olhou direto através de meus olhos
E a escuridão não pôde se esconder

Você quer ser livre?
Levante suas correntes
Eu tenho a chave
Todo poder nos Céus e na Terra pertencem a mim

Você está livre
Você está livre
Você está livre