21 julho 2011

Mudança: palavra que deveria ser riscada do dicionário do portador de TOC

Sei que estou devendo um post faz tempo. Passaram-se mais de um mes desde o último post mas é que mudei de emprego e como se não bastasse uma mudança ainda mudei de cidade também. No próprio filme "Melhor Impossível" vemos como o personagem se irrita com as mudanças. Ele gosta de comer no mesmo lugar, sentar-se no mesmo lugar e ser atendido pela mesma garçonete e quando uma variável muda ele se sente perdido e a ansiedade aumenta.
Isso é porque gostamos de ter o domínio da situação e não gostamos quando pisamos num terreno desconhecido ou quando o script muda, mesmo quando sabemos de ante-mão que ele vai mudar.
Nunca deixei o TOC limitar a minha vida, pelo contrário, muitas vezes limitava o TOC para que ele não limitasse minhas decisões mas fui pego de surpresa. Cansado da mesmiçe da vida, principalmente na vida profissional, não me dei conta que os anos se passaram, que envelheci e apesar dessa mesmiçe me fazer mal a vida, ela me fazia bem ao TOC e resolvi trocar de emprego. Durante 6 anos vivi praticamente a vida profissional de um funcionário público que aguarda pacientemente, sentado em sua mesa, a sua aposentadoria e não tinha pretensão de mudar de emprego mesmo reclamando
dele dia-a-dia.
Fui levado pela correnteza e tudo aconteceu tão rápido que quando me dei conta já estava cumprindo o aviso prévio. Estava feliz por um lado pois nem 1% de aumento a empresa me ofereceu para eu ficar e estava saindo para ganhar 50% a mais mas por outro lado preocupado pois me dei conta que iria não só mudar de emprego como também de cidade.
Assim como a donzela espera ansiosamente pelo seu cavalheiro vir resgatá-la num cavalo branco, eu esperava que uma empresa da minha cidade que me chamasse para fazer a entrevista e me salvasse de mudar de cidade. O cavalo branco não apareceu e eu caí do cavalo.
Estou aqui sozinho, sem amigos, sem conhecidos, sem meu posto de gasolina de confiança, sem a minha padaria predileta. Onde vou tomar meu cafezinho de todo dia? Como vou pedir "o de sempre" para alguém que nem me conhece? Cadê aquela farmácia que tem o melhor preço onde compro quase sempre? Estou me sentindo como um estrangeiro em seu próprio país.
Para que passar por tudo isso? Já não me basta o TOC e ainda tenho que passar por nova adaptação no emprego, fazer novas amizades, descobrir onde ficam as padarias, visitá-las e escolher a que mais me agrada e acima de tudo sozinho?
Tudo por causa de um salário maior? Dinheiro não é tudo, mas sem ele não fazemos nada! O dinheiro não pode curar um portador de TOC mas pode lhe dar uma vida com uma qualidade muito melhor.
Claro que além de um salário novo tem também o lado de ser uma nova experiência, novas oportunidades de aprendizado, novas amizades, novas aventuras. O que será que as pessoas tem contra o velho? Agora acho que trocaria o novo pelo velho :(. Panela velha é qua faz comida boa, velhos e bons amigos, sapato velho não aperta o pé, etc.
Será que não gostar de mudança é uma caracteristica de quem tem TOC ou é a idade chegando? Alguém que tem TOC, que seja novo ou "na melhor idade", poderia me ajudar nessa questão? Quem não tem TOC poderia também me ajudar? Um alguém jovem e outro alguém já mais vivido?
Bom, já que usei tantos clichês nesse post, vou usar mais um: dia melhores virão. Somente crendo que depois da tempestade vem um dia lindo de sol é que conseguimos continuar em frente.
Quem sabem um dia eu não acordo, me levanto e o TOC fica alí deitado, para sempre?