28 janeiro 2011

Bom dia para quem?

As vezes eu acordo assim: cara de sono, mau humor, com o TOC quase nível 5 na escala Richter (ou atacado como costumo dizer) e ainda tenho que enfrentar um dia inteiro pela frente. Tento me animar me dizendo que é só mais um dia e ele passa rápido mas lembro que finalizada a batalha de hoje ainda terei a batalha de amanhã.
Geralmente sempre sou bem humorado mas o TOC é umas das poucas coisas que conseguem tirar meu bom humor. Eu levanto e começo a fazer meus rituais, ir e voltar do banheiro, tento descer as escadas sem pensar em algo ruim etc, então enquanto estou me trocando, me arrumando ou descendo a escada estou tanbém fazendo meus rituais e tentando não pensar nada ruim e com isso acabo fazendo muitas coisas sem pensar. É inevitável que eu não me esqueça de algo afinal já é dificil não esquecer nada tentando pensar em tudo o que precisa fazer ou pegar, imagina fazendo tudo isso tentando não pensar em nada? Vou descendo as escadas, me atropelando nos degraus, lavando as mãos no lavado e subindo novamente e quando finalmente consigo descer as escadas lembro que esqueci algo que preciso lá em cima :(. Volto para pegar e começa tudo novamente. Finalmente consegui descer as escadas de novo e agora tento sair, fechar a porta correndo e entrar rápido no carro antes que sinta que tenha que voltar novamente para lavar as mãos no lavabo. Tento, enquanto entro no carro, já ir ligando o carro, colocar o cinto de segurança e abrir o portão automático mas se torna impossivel fazer 3 coisas ao mesmo tempo que dirá misturar tudo isso aos rituais e pensamentos. Para ajudar a chave do carro cai enquanto eu tentava entrar no carro e tenho que sair novamente do carro, abrir a porta e voltar para lavar as mãos. O TOC sempre sacaneia a gente então depois de ir e voltar do lavado tentando sair e fechar a porta quando finalmente consigo sair minha blusa enrosca na porta e sou obrigado a abrir a porta para soltá-la. Ai que ódio, vontade de ir somente com metade da camisa para o trabalho mas abro a porta novamente e isso implica em começar novamente o lava-mão, tenta-fechar-a-porta, lava-mão. Conseguido entrar no carro e ligá-lo enquanto coloco o cinto e abro o portão já vou andando com o carro antes mesmo do portão abrir por completo. As vezes me pego agachando dentro do carro achando que desse modo conseguirei passar por debaixo do portão antes mesmo que ele abra, tamanha a vontade de sair correndo. Nessas alturas já estou suando bicas, pricipalmente nesse calor e meu condicionamento está melhor do que se eu tivesse feio 40 minutos de esteira mas vamos em frente pois ainda mal começou o dia.
Vou seguindo para o trabalho meio aos pensamentos e rituais mentais, graças a Deus não tenho outros rituais enquanto dirijo. Quando chego no trabalho abro e fecho várias vezes a porta do carro, não sei mas acho que tenho sérios problemas com portas, se todas fossem automáticas que bom que seria a minha vida. Já cansado de fechar a porta e ir e voltar até o carro me deparo com a escadaria de 80 degraus!!!! para chegar do estacionamento até o prédio. Subo os degraus meio rapidinho (meu condicionamento físico não permite que eu vá mais rápido) e dou glórias a Deus que com essa escada eu não tenho o mesmo problema que tenho com a escada de casa (quero comprar uma casa plana, sobrados me torturam muito). Cheguei ao prédio e trabalho no 2o e último andar claro e para isso são mais 40 degraus até o 2o andar - descobri porque odeio escadas - mas antes disso tem a catraca que vc precisa passar o crachá antes de entrar. Por falar em crachá, cadê o meu? O TOC me sacaneou novamente e esqueci ele no carro, abri e fechei várias vezes a porta do carro mas em nenhuma delas lembrei de pegar o crachá pois estava preocupado em não pensar em algo ruim :(. Aposto que passou pela cabeça de voces um filminho voltando tudo novamente, abrindo a porta do carro e fazendo todos os rituais novamente. Pela minha também e claro que a decisão foi: Nem pensar!
A catraca é eletrônica e não precisa do crachá para liberá-la, somente é necessário para que ela não apite e não tire uma foto sua entrando sem ter passado o crachá. Então tudo bem, passo sem crachá, ela apita e antes de tirar a foto dou um sorrisinho :) - para, pelo menos, sair bem na foto.
Chego a minha mesa cansado, sinto como se tivesse vindo rolando, despencando morro abaixo, tropeçando, sendo jogado de um lado para outro pelos carros da avenida até chegar ao trabalho e vejo no MSN a mensagem de BOM DIA feita com aqueles emoticons floridos e piscantes e penso: Bom dia para quem?

18 janeiro 2011

Livre para ser obsessivo-compulsivo

Descobri que eu não me importo de ter TOC e desisti de lutar para me curar 100% e ser uma pessoa normal pois pessoas normais não existem. É bem válido aquele ditado que diz que "de médico e louco todo mundo tem um pouco". Nos 5 anos de faculdade eu tive algumas aulas de psicologia e logo no início precebi que todo comportamento humano podia ser enquadrado em uma patologia e afirmei à professora que dessa maneira ninguém seria normal e ela disse que é verdade isso mas se a pessoa vive bem na sua "anormalidade" não há porque procurar ajuda e mudar. Somente devemos procurar ajuda para mudar se nossas patologias nos afetam ou afetam as demais pessoas.
Eu convivo com o TOC a muitos anos, ele já faz parte da minha vida e não consigo me lembrar de como era a minha vida antes do TOC e também não consigo imaginar como seria ela sem o TOC. Acho que sofro da Síndrome de Estocolmo pois o TOC sequestrou a minha mente e me mantém cativo e essa relação de amor e ódio se arrasta a tanto tempo que não consigo vislumbrar minha vida sem o TOC.
Se eu pudesse ao menos ter mais liberdade com o TOC, se eu pudesse pular as rachaduras no chão sem me esconder, disfarçar ou dar satisfações, se eu pudesse voltar quantas vezes fosse necessárias para conferir, se eu pudesse abrir e fechar a porta do carro quantas vezes eu precisasse sem olhares estranhos já seria um alívio imenso. Se eu pudesse realizar meus rituais quando eu quisesse ou quando tivesse tempo, se fosse possível dar uma pausa nos rituais e pensamentos para realizar tarefas importantes e urgente e depois recomeçar de onde parei nem me importaria muito com o TOC.
Já cheguei num nível satisfatório em relação ao meu TOC em que, apesar de eu ainda ter TOC ele não me atrapalhava. Tinha dúvidas se havia fechado ou não a porta como a maioria das pessoas mas puxando pela memória conseguia lembrar de um fato que me certificava que havia fechado a porta e não voltava para verificar. Gostava das coisas organizadas mas não necessáriamente alinhadas ou simétricas. Apesar de ainda ter TOC era algo que não me atrapalhava e permitia levar uma vida "normal". Depois de um tempo mesmo tomando remédios os pensamentos e rituais foram se tornando mais pertinentes, nada comparado com antes quando eu não me tratava mas o suficiente para o TOC voltar a me incomodar.
Hoje, após muitos anos buscando a cura, busco apenas voltar àquele estágio em que eu tinha pensamentos e rituais mas era livre para ser obsessivo-compulsivo, sem me importar com os rituais, sem me importar com o olhar recriminatório e curioso das pessoas. Pois buscar a cura de forma "obsessiva", querer o perfeccionismo é mais uma caracteristica dos portadores de TOC e para me livrar dele preciso me livrar dessa caracteristica :).
Não me importo em ser diferente igual a todo mundo, eu quero é ser livre.

01 janeiro 2011

Feliz Ano Novo


Queria desejar Feliz Ano Novo a todos que acompanharam meu blog em 2010 e àqueles que irão acompanhá-lo em 2011 :)
Nada melhor do que começar o ano com uma música do Casting Crowns que foi indicação de minha amiga Amanda. Segundo ela "essa música expressa de forma perfeita" o sentimento em relação ao TOC e eu concordo com ela plenamente.
Segue a tradução da música e o link para ela no youtube:

Me Liberte

Nunca foi sempre assim
Eu lembro de dias brilhantes
Antes da escuridão que veio
Roubou minha mente
Amarrou minha alma com correntes

Agora eu vivo entre os mortos
Lutando contra as vozes em minha cabeça
Esperando que alguém me ouça chorar à noite
E me carregue pra longe

Me liberte das correntes que me seguram
Tem alguém lá fora me ouvindo?
Me liberte

A manhã chega, um outro dia
Que me encontro chorando na chuva
Sozinho com meus demônios estou
Quem é este homem que vem na minha direção?
Os escuros gritam
Eles gritam Seu nome
É Ele o quem dizem que vai libertar os cativos?
Jesus, salve me!

E quando o homem Deus passou por mim
Ele olhou direto através de meus olhos
E a escuridão não pôde se esconder

Você quer ser livre?
Levante suas correntes
Eu tenho a chave
Todo poder nos Céus e na Terra pertencem a mim

Você está livre
Você está livre
Você está livre