25 março 2011

Quando o TOC começou

Não sei se todos leram mas na página Quando tudo começou eu relato como meu TOC começou. Não quando eu descobri que tinha TOC mas sim quando notei em mim meu 1o sintoma de TOC. Sei que não é fácil muitas vezes lembrarmos quando foi que nossas esquisitiçes começaram mas eu lembro nitidamente de poucas imagens de quando eu estava no pré e em nenhuma delas eu estava fazendo algum tipo de ritual. Já meu 1o sintoma, quando estava na 1a série, nunca me saiu da cabeça e desde esse dia em diante eu  me lembro que sempre minha vida foi marcada por pensamentos, medos e rituais.
Eu também já disse em algum post que nunca conheci pessoalmente outra pessoa que tivesse TOC, na verdade, antes de criar esse blog eu nunca havia conhecido, nem virtualmente, outra pessoa com TOC. Depois do blog continuo sem conhecer pessoalmente outro portador de TOC mas virtualmente já conheço várias pessoas e todas elas são amáveis e inteligentes como eu rs. Como é bom conhecer pessoas parecidas conosco - não somente em relação aos adjetivos "amável" e "inteligente" - mas pessoas que compartilham do mesmo problema, das mesmas dúvidas, do mesmo sofrimento e todos prisioneiros do seu próprio cérebro.
Todo mundo gosta de ouvir estórias parecidas com as suas e saber que não está sozinho, que não é nenhum alienígena em meio aos terráqueos. Se não fosse assim não existiria o grupo dos AA, ou então o grupo dos Narcóticos Anônimos então porque não criar o grupo virtual dos POTA - Portadores de TOC anônimos?
Gostaria de que, cada um que lê esse blog ou segue esse blog, contasse sua estória de como seu TOC começou, deixando-a nos comentários. Pode ser de forma anônima como o nome do grupo sugere, pode ser usando um pseudônimo ou então com seu próprio nome. O importante é tentar lembrar quando seu TOC começou afinal para se chegar à cura no final temos que saber como foi o início, talvez a resposta esteja onde tudo começou.

Podem ter certeza que eu lerei todas as estórias aqui postada e com certeza me será de grande valia assim como também será de grande valia para outras pessoas que por aqui passarem e lerem.
Grato,
Miguelito

21 março 2011

A viagem de trem inesquecível (Estudo de caso)

Já falei muito de mim e dos meus rituais e agora vou contar a estória de uma outra pessoa. Ela me contou um dos seus piores rituais e me autorizou publicar aqui. Vamos chamá-la de Vanessa (nome fictício).
Vanessa começou seus rituais ainda criança mas não se lembra exatamente quando começou. Sabe que tinha pensamentos estranhos e que tinha que realizar certos rituais para que esses pensamentos à deixassem um pouco mais sossegada. Não eram vozes que mandavam ela fazer coisas que ela não queria, eram pensamentos mesmo, oriundos de sua própria mente e que, apesar de desafiar o lógico, faziam com que ela sentisse a necessidade de tocar em tudo o que via para que esses pensamentos não se tornassem realidade.
Ela começou tocando nos postes enquanto caminhava até a escola. Não eram todos, somente quando vinha um pensamento que sua mãe morreria ou poderia ter câncer é que ela tocava no 1o poste que via pelo caminho. Se o poste estava do outro lado da rua ela se via obrigada a atravessar a rua para tocar nesse poste. Quando ela tentava resistir, uma grande aflição atordoava sua mente. O ritmo do coração acelerava e junto dele os pensamentos de morte aceleravam também. Era como se ao se recusar a tocar no poste ela tivesse cortado o fio errado da bomba relógio que estava presa ao corpo de sua mãe e a contagem regressiva tivesse acelerado. Mais que depressa ela voltava para tocar naquele poste e a contagem regressiva parava.
Com o tempo ela foi tocando em outros objetos também além dos postes. Tocava no paralelepípedo da rua, voltava o caminho só para tocar na lombada que ela havia acabado de passar, tocava nas folhas e flores das árvores. Esse ritual também era realizado dentro de casa e ela sentia necessidade de tocar na vasilha com a comida do gato. Se fosse hoje Vanessa não sofreria tanto com a ração para gatos mas naquela época sua mãe costumava cozinhar sardinha e misturar ao pão para dar aos gatos e ela mergulhava seu dedo naquela mistura húmida e morna que os gatos comiam até tocar o fundo da tigela. De tanto fazer isso seus dedos ficavam com um aroma que atraia vários gatinhos (literalmente). Nas épocas de maior ansiedade ela começou a tocar na água do vaso sanitário. Procurava encostar o mínimo possível na água mas sentia a necessidade de pelo menos molhar a pontinha da unha na água.
Eu diria que isso é um paradoxo pois existe a obsessão com limpeza onde há uma preocupação excessiva com sujeira, germes ou contaminação e a pessoa tem compulsão por lavar as mãos ou não tocar em algo que acha que está contaminado. No caso de Vanessa ela lavava sim muito as mãos mas era por causa da compulsão que a obrigava a tocar em coisas sujas e não por medo de contaminação.
Uma vez quando ela voltava com sua mãe e seu irmão de trem para casa ela sentou na janela e viu a janela suja de vômito e sentiu uma necessidade enorme em tocar naquele vômito. Seu corpo lutava contra sua mente mas a proximidade com o vômito fazia com que ela, apesar se sentir enjoo, se sentisse mais tentada a tocá-lo. Após uma luta interior enorme ela, com muito esforço, levantou a mão e tocou bem de leve com a ponta de sua unha naquele vômito seco e desconhecido e tirou a mão rapidamente. Mas o TOC é astuto e maquiavélico e quanto mais corda vc der a ele maior será a forca que ele preparar para vc e antes  mesmo que ela pudesse respirar aliviada outro pensamento invadiu sua mente para que ela tocasse agora com a ponta de sua lingua.
Ela balançou a cabeça e torceu o nariz num gesto de nojo e pensou: isso eu não posso fazer. Mas e se alguém morrer por causa disso? E se EU morrer por tocar nesse vômito?
O tempo foi passando, sua luta foi aumentando até que finalmente sua estação chegou e sua mãe a puxou para descer do trem. Nesse ponto qualquer um sentiria-se aliviado por descer do trem sem tocar o vômito com sua lingua mas quem tem TOC não é qualquer um e ao invés do alívio Vanessa sentiu uma enorme ansiedade e sentimento de culpa. O trem fechou as portas e seguiu e Vanessa não conseguia andar, ela precisava de alguma forma anular o efeito daqueles pensamentos. Milhões de cosias lhe vinham a cabeça e ela foi seguindo sua mãe e seu irmão meio aos rituais mentais e compulsões que ela deixava pelo caminho.
Sua ansiedade foi passando..... seu coração foi voltando ao batimento normal e Vanessa descobriu que ninguém morre por uma crise de ansiedade, por mais que parece o contrário, e que graças a Deus sua mãe e seu irmão estão vivos até hoje :)
Essa estória me foi contata por uma amiga que tem TOC e eu, além de trocar seu nome, contei à minha maneira porém mantendo a veracidade. Esse episódio não foi o suficiente para que Vanessa eliminasse suas compulsões mas com certeza se alguém, nessa época a tivesse incentivado a lutar mais vezes contra seu TOC ela teria vencido essa ansiedade inicial que se tem quando não se consegue realizar um ritual e talvez estaria curada. Ela me disse que isso a ajudou, pelo menos, a lutar contra esses rituais bizarros e a não realizá-los. Mas porque lutar somente contra os bizarros como esse? Porque não lutar contra todos os rituais?
Essa é uma pergunta que não tem resposta certa, somente cada portador de TOC é capaz de dar essa resposta a si mesmo.

09 março 2011

Altos e baixos

Caros leitores, sei que fiquei muito tempo sem escrever, fiquei um mes inteirinho sem escrever mas é que meu trabalho estava na correria pois precisavamos entregar algo antes do carnaval e conseguimos :). Agora que o ritmo voltou ao normal gostaria de escrever 4x por mes ou no mínimo 3x por mes. Acho que a minha criatividade também estava baixa e não sabia sobre o que escrever. É interessante pois os portadores de TOC geralmente são criativos, além de inteligentes então não sei se é bom ou ruim essa falta de criatividade, não se indica que o TOC  também está sumindo junto com a falta de criatividade ou não. O pior de tudo é se junto com a criatividade e com o TOC a inteligencia se for também rs.
Mas o que eu queria dizer mesmo é que meu estado de espírito, meu humor, meu TOC, quase tudo oscila muito em minha vida. Fiz até um gráfico para tentar expressar mais ou menos como seria meu humor com o passar do tempo. Nâo classifiquei se o tempo medido é em dias, horas ou minutos pq iss otb varia. Tem épocas em que esse gráfico pode ser medido em meses....outras épocas posso dizer que essa variação se dá em semanas mas as vezes a únidade de medida do tempo é em dias mesmo. Meu humor varia de um dia para o outro dependendo de como foi o dia no trabalho, de como dormi a noite, do que tenho que fazer durante a semana, etc.
Se as mulheres reclamam que seu humor variam no período da TPM que dirá aquelas que além da TPM também tem TOC?. Nós homens que temos TOC entendemos um pouquinho desse universo feminino no período da TPM, como é triste algo dentro da gente e fora do nosso controle ditar como estará nosso estado de espírito nos próximos minutos.
Essa ansiedade e essa irritabilidade nos deixam sensíveis a ponto de estourar com apenas uma palavra negativa. E quando nos atrapalham no meio dos rituais ou compulsões? O ódio de ter que recomeçar os rituais nos fazem ferver e nos cegam e acabamos sendo grosso e estúpido, muitas vezes querendo que os outros também entrem em nossos rituais e os sigam.
Mas ainda bem que são altos e baixos e não somente baixos. Quando estamos no fundo do vale, na parte mais baixa do gráfico de Estado de Espírito devemos lembrar que isso significa que estamos prestes a subir no gráfico, que não tem como piorar nosso humor e que nesse altos e baixos, quanto mais baixo estamos mais próximos da subida estamos também. Quando atingimos o fundo é porque vamos começar a subida até atingir o topo e até lá é só alegria :)
Temos que aproveitar esses momentos de "altos" para produzir, fazer tudo o que não conseguimos fazer quando estávamos nos "baixos" e quando estamos nos "baixos" devemos nos concentrar na subida, ter como meta o topo do humor.
Quero contar algumas estórias minhas relacionadas aos rituais e também de outras pessoas portadoras de TOC (sem citar nomes) para que aqueles que tem TOC possam se identificar mais e aqueles que não tem possam entender um pouco mais do universo do TOC.
Nâo me orgulho do meu TOC mas me aceito do jeito que sou.