23 setembro 2015

O sapo e o escorpião

Olá, sei que os posts estão cada vez mais distantes um do outro mas quem é fiel ao blog nunca fica sem um post pelo menos :)
Eu e uma colega amiga eterna que fiz aqui no blog as vezes ficamos discutindo se algumas de nossas atitudes são frutos de nossa natureza ou se foram formadas pelo TOC. Será que algumas de nossas características são frutos do modo com o qual fomos criados ou será que foram moldadas pelo TOC ao longo de nossas vidas.......? Ela se questiona sempre se ela seria daquele jeito, caso não tivesse TOC ou se é daquele jeito porque o TOC a transformou naquilo naquele ser incrível?
Talvez essa fábula, que eu sempre cito a ela e que agora coloco a vocês também, explique um pouco ou complique mais ainda :D
 
O sapo e o escorpião
"Um sapo e um escorpião se encontraram às margens de um rio profundo. Ambos precisavam atravessá-lo, mas só o sapo sabia nadar. O escorpião se aproximou dele e pediu carona nas costas para atravessar o rio. O sapo relutou dizendo: “Não sou doido, se o carregar nas costas, você vai me dar uma picada e eu ficaria paralisado e morreria”. O escorpião ponderou: “Eu é que seria doido se fizesse isso porque também morreria porque não sei nadar”. O sapo pensou e admitiu que o escorpião tinha razão, era lógico o que ele estava afirmando. Então deixou que ele subisse nas suas costas e começaram a travessia do rio. No meio dessa travessia, o escorpião, poke!, deu uma picada no sapo. Este, surpreso com a traição, ainda não paralisado mas já sentindo o efeito da picada, perguntou indignado: “Por que você fez isso se sabe que também vai morrer?”. O escorpião respondeu: “Fiz isso porque sou um escorpião e isso faz parte da minha natureza, não posso mudar a minha natureza”.

 
Eu acredito que nossa natureza seja tão forte a esse ponto, capaz de nos matar mas nunca de traí-la. Sendo assim o modo pelo qual agimos, o que somos é de nossa natureza e não, tal como um boneco de barro, moldada pelo TOC. Para muitos isso serve de consolo mas para outros, que costumavam colocar a culpa de tudo no TOC, soa terrível. Durante muito tempo vivi como vítima do TOC e colocava a culpa de tudo no TOC. Isso era mais conveniente para mim mas com o tempo vi que não era bem assim, quase tudo do que eu fazia era de minha natureza e eu faria mesmo não tendo TOC. Eu apenas usava o TOC como bengala, como muleta para justificar algumas de minhas atitudes que eu não admitia ser de minha natureza.
Não estou dizendo que chegar atrasado num lugar por causa dos rituais seja de nossa natureza e não do TOC, eu me atraso muito por causa do TOC, devido ao tempo que perco com os rituais mas minha natureza é um pouco preguiçosa. Não gosto de acordar cedo e nem de chegar cedo ao lugares e se não tivesse TOC não chegaria tão atrasado mas mesmo assim chegaria atrasado :)
As pessoas que tem obsessão por limpeza, por simetria, por conferir, que tem compulsão de lavar as mãos várias vezes, que tem compulsão por organização e perfeccionismo mas mesmo sem obsessão elas seriam limpas, organizadas, perfeccionistas porém não ao extremo. Aquelas que não tem compulsões (rituais), apenas obsessões, sofrem com os pensamentos invasivos mas sem o TOC será que não seriam pessoas pensadoras? Que vivem pensando na vida, nos outros, pensando em tudo mesmo não tendo TOC?
Tenho TOC desde os 6 anos então não sei o que é viver sem o TOC pois não tenho muitas recordações antes dos meus 6 anos de idade. Também não sei como era minha personalidade antes do TOC pois uma criança de 6 anos não tem personalidade RS, portanto somente me curando do TOC é que eu saberia o que é não ter isso. Com certeza, apesar de me livrar do TOC, minha personalidade não iria mudar. Leio muitos testemunhos de pessoas que se tornaram obsessivas -compulsivas com 15-20 anos então elas sabem bem o que é viver sem o TOC e dizem que era maravilhoso mas fico feliz que para mim não faz diferença pois não conheço o outro lado (sem TOC). Acho que talvez por isso eu seja tão conformado com o meu TOC (até chamo ele de "meu" kkkk).
Espero que tenham gostado do post e principalmente da parábola. Eu amo parábolas e essa é uma das minhas preferidas.
Abraços,
Miguelito