Esses dias eu conversei com uma amiga pelo chat, por enquanto uma amiga virtual porque eu a conheço somente pela internet, e ela me disse que tem TOC a 10 meses.
Fazia um tempo já que ela estava no meu facebook mas eu não conseguia conversar direito com ela. Eu deixava mensagem, depois de um tempo ela respondia parcialmente, depois sumia novamente até que finalmente consegui encontrá-la conectada.
Ela tem apenas obsessões (pensamentos invasivos) mas não tem nenhuma compulsão (nenhum ritual) e apesar disso seu TOC chega a ser mais incapacitante do que muitos TOC´s com obsessões acompanhado de compulsões. Ela parou a faculdade por causa do TOC e disse que o pensamento de que ela vai matar alguém é muito forte na cabeça dela e que isso a deixa assustada e que pensamentos de suicídio já passaram pela cabeça dela.
Ela me disse que toma medicamentos mas que eles não ajudam a afastar os pensamentos e depois de tantas perguntas que eu fiz a ela, ela me perguntou a quanto tempo eu tomo medicamento e quando eu disse que tomo a 12 anos ela disse: Eu não quero viver com TOC tanto tempo assim.
Gostei da sinceridade dela e mal sabe ela que eu vivi 20 anos com o TOC me atormentando sem tomar nenhum medicamento e que esses 12 anos que tomo medicamentos tem sido light em relação aos outros 20 anos rs.
Para quem se tornou portador de TOC depois de adulto realmente deve ser dificil aceitar esse transtorno mas para quem convive com ele desde criança ele passa a ser parte de nós e isso não é bom. A diferença é igual a uma pessoa que nasce cega daquela que se torna cega depois de adulto, ou daquela que nasce surda da pessoa que se torna surda com uma certa idade. Quando vc nasce surdo vc se adapta a isso, vc aprende a conviver com isso e faz da surdez parte da sua vida. Vc não sabe o quão bom é poder ouvir e por mais que as pessoas expliquem, ouvir parece não fazer diferença para vc. Já aquele que fica surdo depois de adulto a diferença é enorme. A pessoa não se conforma com a surdez, ela experimentou uma vida ouvindo e não sabe como lidar com a surdez. A surdez não faz parte da sua vida e ela quer arrancar esse mal a todo custo. Ela quase fica louca com a possibilidade de nunca mais ouvir na vida.
Acredito que o mesmo ocorra com o TOC. Quem tem TOC desde criança aprendeu a lidar com isso, mesmo o TOC ainda sendo um sofrimento enorme para ela e ela desejar a cura, ela não faz disso a sua meta de vida. Pelo contrário, ela leva a sua vida independente do fato dela ter TOC ou não, ela não para a sua vida por causa do TOC.
Podemos usar o mesmo paralelo para a cura. Imagina um surdo de nascença ouvindo depois de adulto? Redescobrindo o mundo através dos sons, vendo, ou melhor, ouvindo o quanto é bom ouvir, libertando-se daquilo que limitava a sua vida e ganhando uma vida nova. O mesmo ocorre com o portador de TOC que atinge não necessariamente a cura mas uma grande melhora de uns 90%.
Ele experimenta uma vida nova, livre dos pensamentos e rituais que o aprisionavam e que ele tornou parte da sua vida. E depois de experimentar essa liberdade, essa melhora de 90% ele já não se conforma mais com a doença, ele quer a cura. Aquele que desenvolveu o TOC depois de uma certa idade em que ele já tinha consciencia do como é bom viver sem o TOC também não se conforma com melhoras, ele quer a cura. Isso é ótimo desde que essas pessoas não façam disso sua razão de viver.
Existe vida após o TOC! Enquanto a cura não chega continue a viver, viva o mais normal que vc conseguir esperando em Deus pela cura do TOC.
Amiga, não sei como confortar seu coração, não sei se existe conforto para quem tem TOC que não seja a cura mas uma coisa eu sei, sozinha vc não está e se vc chegou até aqui, aguente mais uns passos até a cura.