20 anos de "manias"

Há diversas situações que podem levar um indivíduo a desenvolver TOC. Não sei exatamente qual delas foi a responsável pelo meu TOC mas me recordo perfeitamente de quando e como tudo começou e que daí por diante foi apenas crescendo.
Depois da "mania" de apagar as palavras e fazer pontos e furos na folha começei a desenvolver outros rituais - não entendam ritual pelo lado pejorativo mas sim como a atitude de realizar uma sequencia obrigatória de movimentos - que, graças a Deus, não me recordo de todos mas com certeza os que recordo foram os mais marcantes.
Fui acumulando uma série de rituais e algumas vezes substituia alguns rituais por outros, de maior ou menor grau de dificuldade, mas sempre rituais que me desagradavam, me humilhavam mas que eram a única forma de "neutralizar" os pensamentos ruins que invadiam a minha mente e impedir que tais pensamentos ocorressem.
Na escola seus colegas não perdoam quando vc tem um nariz maior que a maioria ou se vc é o maior ou o menor da turma. Tudo o que é diferente, que foge do padrão estabelecido pela sociedade como "normal", é alvo de olhares, críticas, deboche. Meus anos escolares foram complicados, acredito que eu desperdiçava 3-4 horas por dia com meus rituais e entre um e outro eu tinha que arrumar tempo para copiar a matéria, prestar atenção nas aulas e estudar. Além disso tinha que tentar esconder ao máximo meus rituais e ter desculpas na ponta da língua caso fosse pego de surpresa fazendo um dos meus rituais e não desse tempo de disfarçar. Com o tempo descobri que era uma pessoa criativa. Não sei se nasci com esse dom ou o TOC me obrigou a desenvolver mais esse meu lado. Sei que as artimanhas que eu fazia para não ser descoberto nos meus rituais e as desculpas que eu inventava para eles eram de outro mundo :)
Em casa eu também tinha meus rituais que variavam e era dificil o convívio familiar. Os pais não sabem como lidar com o TOCe as demais pessoas diziam que era normal, que era tique nervoso de criança e conforme crescesse ia passar. Mas estavam erradas, com o tempo não vai diminuindo a ansiedade, só vai aumentando, os rituais não melhoram, só pioram, não reduz o número de vezes que vc lava a mão ou confere a porta, não diminui o tempo no banho, o tempo para se arrumar, pelo contrário, com o tempo tudo aumenta e piora. Os irmãos, mais velhos ou mais novos, acham graça, criam apelidos e o pior de tudo, amam contar o que vc faz para SEUS amigos e não para os amigos dele (o que seria ruim também mas menos pior). Além de vc ter que "esconder" seus rituais quando está em publico também se ve obrigado a fazer isso em casa.
A busca por ajuda é frustada pelo preconceito e ignorância, tanto por parte das pessoas quanto por parte de vc mesmo. O primeiro passo para a pessoa se curar e ela admitir que está doente mas doente do que? Da cabeça? Se sou doente da cabeça não tem coerência eu ter consciencia que estou doente. Se tenho consciencia do que faço, se sei que isso não é normal, se tento esconder por vergonhas das pessoas com certeza não sou doente da cabeça. Há uma grande resistência em procurar qualquer profissional para falar de suas "esquisitiçes", para lhes contar que vc faz coisas, tem pensamentos que nenhuma outra pessoa no mundo tem. Como ele vai te entender e te ajudar se vc é a única pessoa no mundo assim?
Depois de mais ou menos 5 anos sofrendo com isso meus pais resolveram me levar a um médico, o melhor homeopata daqui - e o mais caro também - mas não foi, de longe, a melhor experiência da minha vida.