30 dezembro 2010

Manias

Manias ou rituais, como queiram chamar, são as compulsões que temos na tentativa de diminuir a ansiedade causada pela obsessão. E essa tentativa é bem sucedida por isso tendemos a continuar as ter compulsões como alívio das obsessões. Só não entendo porque minhas manias ou rituais vão mudando com o tempo. Não sei se isso acontece somente comigo ou com outros portadores de TOC também mas meus rituais foram mudando ao longo do tempo. Hoje, meu dia começa e eu vou ao banheiro lavar o rosto, tenho a mania de lavar duas vezes o rosto, colocar 4x água na boca e cuspir e depois lavar mais duas vezes o rosto. Que eu me lembre esse ritual me persegue faz tempo e o faço de forma tão automática que já não me causa mais angústia ao fazê-lo pois é algo que não me toma tempo, é sempre igual. Já depois de lavar o rosto eu preciso me trocar, escolher uma calça e vestí-la, uma camisa, meias e sapatos. O ritual para isso mudou muito com os anos, cada vez tenho uma mania diferente para me trocar. Antes eu tinha que pegar uma calça e se conseguisse pegá-la e não ter nenhum pensamento ruim eu vestia ela. Se no momento em que pegava a calça me viesse um pensamento ruim então eu não podia mais colocar aquela calça naquele dia senão eu achava que algo de ruim ia acontecer com quem eu amo. Aí eu tentava pegar outra calça sem vir um pensamento ruim e assim ia até conseguir. Conforme ia acabando a quantidade de calças disponíveis eu sabia que de alguma maneira teria que vestir uma, nem que fosse a última calça então parece que ao sobrar poucas calças ficava mais fácil. Com o tempo aperfeiçoei esse ritual e ia tocando em várias calças e tendo pensamentos ruins(de forma intencional) para que me sobrassse apenas 1 ou 2 opções aí só me restava vestir a calça que sobrou. Assim como eu aperfeiçoei esse ritual, o TOC também se aperfeiçoou e meu ritual mudou. Agora não bastava mais eu pegar a calça sem vir um pensamento ruim, eu tinha que pegar a calça e vestí-la sem vir nenhum pensamento ruim. Enquanto vc leva apenas 2 segundos para pegar uma calça é fácil não ter pensamentos ruins em 2 segundos mas para vestir uma calça, por mais rápido que vc seja vc vai levar uns 5 segundos e aí sim fica complicado vc tentar afastar os pensamentos ruins por 5 segundos. Agora eu já não podia mais sair tocando em várias calça para sobrarem apenas 1 ou 2, eu precisava de todas as opções de calças disponíveis pois ia descartando uma por uma a medida que tentava vestí-las e no meio do processo me vinha um pensamento ruim e me via obrigado a tirar a calça e escolher outra. Como o tempo esse ritual sofreu "mutações" e hoje o meu ritual para vestir a calça continua sendo ter que vestí-la sem vir um pensamento ruim mas quando eu "acho" que o pensamento ruim está vindo eu tiro correndo a calça e jogo na cama. Aí eu posso ter o pensamento ruim e depois tentar vestir novamente a calça. Bizarro não? Bom, se vc achou bizarro nem continue lendo pois esse foi apenas o 2o ritual do dia, ainda falta eu ralatar mais 317 rituais até o fim do meu dia :).
Vestida a calça eu passo para a camisa que segue o mesmo padrão de ritual. Detalhe, depois que eu vesti a calça e a camisa evito tocá-las com as mãos pois se eu tocar e vier um pensamento ruim tenho que trocar. Então como passar desodorante sem tocar na camisa? Depois de muito sofrer aprendi a passar desodorante antes de vestir a camisa, simples não? :). O ritual para colocar as meias é do mesmo jeito mas não sei porque tenho mais dificuldade nessa tarefa e não vou ter vergonha de confessar que várias vezes peço à minha esposa para vestir as meias em mim. Sim, não posso tocar as meias com as mãos mas não há nenhum problema se elas tocarem qualquer outra parte do meu corpo.
Não tenho mania de simetria, nem de lavagem, nem medo de contaminação, pelo menos não a ponto de realizar rituais do tipo voltar varias vezes para verificar o gás, não tocar em maçanetas para não me contaminar, alinhar os sapatos, etc. Eu lavo sim várias vezes as mãos mas não porque acho que estão sujas mas sim toda vez que tenho um pensamento ruim com quem eu amo. Então quando tocava em uma calça e um pensamento ruim vinha à minha cabeça eu apenas molhava os dedos como se estivesse "lavando" essa ideia da minha cabeça e, depois de "limpo", eu podia pegar outra calça. Eu abro e fecho várias vezes a porta do meu carro mas não porque "acho" que deixei ela aberta e alguém vai roubá-lo ou alguém vai cair do meu carro e se machucar. Faço isso porque quando fechei a porta, veio um pensamento que algo ruim ia acontecer e senti a necessidade de abrir e fechar a porta. É como se refazendo a última ação mas sem o pensamento ruim eu anulasse a 1a ação de fechar a porta quando tive um pensamento que algo de mal iria acontecer.
Basicamente os pensamentos que me veem à cabeça são de que algo de ruim vai acontecer com quem eu amo ou de blasfêmea e se me veem esses pensamentos tenho que lavar os dedos ou refazer a última ação tentando não pensar que algo ruim vai acontecer ou não blasfemar.
Se eu contar todos os rituais durante um dia e como eles sofreram "mutações" com o passar do tempo não vou precisar de um blog para escrever mas sim de uma enciclopédia de A a Z portanto vou apenas citá-los. Depois de me vestir eu tento passar gel no cabelo. Quando coloco um pouco de gel nas mãos e junto dele vem um pensamento ruim não tenho como devolver o gel e só me resta jogá-lo na pia e pegar mais um pouco por isso é necessário muito cuidado ao pegar o gel para não desperdiçar muito. Para descer as escadas eu tento várias vezes, desço até a metade, subo novamente, molho as pontas dos dedos na torneira e tento descer de novo. Colocar leite ou café no copo também é como o gel, se pensei algo ruim preciso jogar e colocar novamente por isso opto por alguém já deixar meu leite pronto (artimanhas para tentar enganar o TOC pois vencê-lo somente com a cura). Abro e fecho várias vezes a porta de casa sem ter uma quantidade de vezes a fechar, é aleatório. Tem dias que demora mais e dias que demora menos. O porque eu não sei e acredito que nuca vou saber pois os rituais não tem nenhuma lógica, o TOC não tem lógica e não somos loucos porque temos a consciencia de que nada disso faz sentido mas mesmo assim continuamos a fazer. Quer algo mais sem lógica que isso?
Mas não se desesperem, já ouvi e li em vários lugares e uma amiga também disse que ouviu de vários psiquiatras que os portadores de TOC são mais inteligentes que a média. Somos esquisitinhos, temos manias? Sim mas somos inteligentes. Se não fossemos inteligentes como iriamos disfarçar nossos rituais para as demais pessoas não perceberem? Eu nunca conheci pessoalmente outro portador de TOC, somente por email ou pelo blog. Alguém que tem TOC já encontrou outro colega de manias?
Essa mesma amiga me disse que assim como escondemos e disfarçamos muito bem nosso TOC das outras pessoas os outros portadores de TOC também disfarçam muito bem.
Não relatei todos os rituais, durante todos esses anos tive muitos rituais, alguns bizarros, outros engraçados, outros constrangedores então se vc acha que seus rituais são muitos piores que esses e tem até vergonha de contar lembre-se que isso que relatei é apenas a ponta do iceberg chamado TOC.
Feliz ano novo para todos.

14 dezembro 2010

Espaço aberto

Não sei se é cíclico mas de vez em quando acordo atacado com meu TOC. Os pensamentos invadem minha mente de uma forma tão agressiva que não consigo espantá-los para longe e a única opção que me sobra é mergulhar nos rituais torcendo para que essa fase passe logo. O que ajuda muito é ler as estórias das outras pessoas, ver casos de melhoras que te dão uma esperança maior e também ler casos piores que o seu para vc não achar que o que vc está passando é o pior pesadelo do que qualquer outro. Tenho recebido bastante emails e várias pessoas tem deixado comentários contando suas estórias, perguntando e trocando experiências. Por isso gostaria de abrir espaço para quem quiser contar sua estória de vida com o TOC, ou contar a estória de alguém próximo ou então apenas desabafar, gritar bem alto para todo mundo ouvir o quanto o TOC a atrapalha.
Quem quiser ter sua estória publicada num post pode me enviar um email relatando suas experiencias que eu coloco num post exclusivo. Muitas vezes quando o TOC me enche eu venho aqui postar alguma coisa então espero que postando a estória de alguém eu também possa ajudar essa pessoa e outras a suportarem aqueles dias em que o TOC acorda com vc, toma café da manhã com vc, vai para o trabalho com vc, lava 200 vezes a mão com vc, etc :)

24 novembro 2010

Curta metragem sobre o TOC

Uma vez escrevi um post intitulado Tragicomédia onde dizia que se eu fizesse um filme sobre a minha vida ele poderia ser classificado como uma tragicomédia. Não é que navegando no youtube encontrei dois curta metragem sobre TOC! O primeiro curta foi um trabalho de TCC do curso de fotografia de um rapaz que também tem TOC. Gostei muito desse vídeo pois a atriz interpretou bem uma pessoa que tem TOC e o roteiro também é bom. Apesar de retratar apenas a ponta do iceberg do drama vivido por tem quem TOC esse retrato é bem fiel. Nem num longa metragem conseguiriamos colocar todo o drama e dificuldades vividos por quem tem TOC, imagina em um curta metragem?
Vale a pena assistir para tentar entender uma minúscula parte do universo de quem tem TOC. Eles estão com os nomes de: Trabalho de TCC parte 1 e Trabalho de TCC parte 2
O segundo curta metragem tenta falar sobre o TOC e a cura através da TCC (Terapia Cognitivo-Comportamental) mas é muita informação para um curta de apenas 20 minutos e acabou nao saindo tão bom quanto o primeiro curta acima. Tentou-se colocar muita informação em pouco tempo. A parte 1 desse curta ficou muito boa, retrata de forma fiel o constrangimento sofrido por quem tem TOC. As partes 2 e 3 não sairam tão boa quanto a 1a mas vale a pena assistir as 3 partes: Curta sobre TOC parte1;  Curta sobre TOC parte 2 e Curta sobre TOC parte 3

22 novembro 2010

TOC e o trabalho

Uma pessoa me perguntou se meu TOC atrapalha meu emprego. Na verdade eu poderia dizer que meu emprego atrapalha meu TOC. Vou responder essa pergunta em um post por ser grande a resposta e para que outros também leiam.
O TOC está presente em várias áreas da minha vida e a área profissional é uma delas. Não há como vc desligar o TOC quando vc está no trabalho, no médico, ou na igreja então o TOC atrapalha em tudo o que vc vai fazer.
O TOC não afeta o meu resultado no trabalho pois eu realizo minha atividades tão bem quanto uma pessoa que não tem TOC. As vezes até realizo a atividade melhor do que alguém que não tem TOC pois sou perfeccionista como qualquer portador de TOC e enquanto o trabalho não sair quase perfeito eu não me contento. Porém, o ótimo é inimigo do bom então o TOC acaba afetando sim a minha produtividade. Levo muito mais tempo para realizar uma tarefa com um resultado ótimo do que uma pessoa que a realiza com um resultado bom (e satisfatório para a empresa).
Tenho TOC desde os 6 anos e não sei se isso foi um fator determinante para a escolha da minha profissão ou se eu escolheria computação independente de ter TOC ou não. Digo isso pois não consigo visualizar alguém trabalhando como socorrista tendo TOC ou então o portador de TOC sendo um neuro-cirurgião. Capacidade para isso todos podemos ter mas profissões como essas exigem que o profissional trabalhe contra o tempo ou que realize procedimentos apenas uma vez. Por isso tenho uma profissão que não importa se sou portador de TOC ou não.
O segredo do TOC é vc manter-se sempre ocupado com coisas que te dão prazer então se vc escolher uma profissão que te da prazer seu TOC não vai te atrapalhar em seu trabalho.

19 novembro 2010

A peça de teatro "TOC TOC"

O post de hoje é para divulgar a peça de teatro TOC TOC que está em cartaz em São Paulo. A peça é ótima e vale a pena assistir.
Ela está em cartaz no teatro Gazeta do dia 19/11/2010 até 27/03/2011
Teatro Gazeta
Av. Paulista, 900 - Térreo
Próx. ao Metrô Trianon
(11) 3253-4102
Para saber sobre dias e horarios clique aqui
Para saber mais sobre a peça e futuras temporadas consulte o site da Filmland

28 outubro 2010

Simples chá?

Não, nada é simples para quem tem TOC. Dizem que café não é bom para quem tem ansiedade pois a cafeína pode deixar a pessoa mais agitada e ansiosa. Dizem que o chá apesar de também ter cafeína é em menor quantidade então é melhor tomar chá do que café. Mas café aqui na empresa é feito por alguém então meu ritual é somente para pegar o copo e colocar açucar e mais tarde aperfeiçoei isso e passei a trazer minha própria xícara assim reduzi o ritual de tomar café somente para o ritual em pegar açucar. Já o chá é mais complicado, eu mesmo preciso preparar meu chá. Isso implica em fazer ritual para pegar água do bebedouro em minha xícara. Depois tem o ritual para escolher o sache de chá que fica na sala da secretária e não é nada fácil não poder tocar em todos os saches de chá antes de escolher o que eu quero, principalmente na frente de alguém. Depois tem o ritual para esquentar a água, se ela pelo menos já saísse quente seria um trabalho a menos. Depois de pegar e esquentar a água várias vezes e tocar bem de levinho na cordinha de quase todos os saches para não tocar diretamente neles e contaminá-los, finalmente resta apenas o ritual para colocar açucar e posso disfrutar desse delicioso e trabalhoso chá.
Delicioso? Depois de tudo isso estou odiando esse chá e chego a conclusão que o chá me causa mais ansiedade do que o café. Sempre pego um chá calmante, não que eu esteja nervoso sempre mas sei que após o preparo do chá com certeza ficarei nervoso e precisarei de um chá calmante.
Hoje achei mais fácil substituir o chá por um gole dágua. Não que minha boca não salivasse por um chazinho sabor limão mas devido ao nível de ansiedade alto que me encontro sabia que não conseguiria chegar até o fim do preparo do chá. Mais tarde vou optar pelo café, que se dane a cafeína, pelo menos para mim é mais fácil pegar um café do que fazer um chá. Ainda bem que não nasci na Inglaterra rs.

26 outubro 2010

O retorno

De volta ao trabalho! Achei que nesses 10 dias eu iria postar bastante mas não postei NADA! :) Voltando ao trabalho me dei conta de que eu acordo cedo 5 dias na semana mas chega na sexta-feira e ainda não me acostumei em acordar cedo mas bastam dois dias do fim de semana para eu me acostumar a acordar tarde. O mesmo acontece com as férias, se vc dividir as férias em duas vc vai sair de férias a cada 6 meses. Pois bem, vc trabalha 6 meses e não se acostuma com o trabalho mas bastam 10 dias de férias para vc voltar ao trabalho como se tudo no trabalho não fizesse parte desse universo. Tenho medo de tirar 30 dias de férias e na volta não lembrar mais o nome dos colegas, onde sento ou talvez nem saiba mais como ir de carro até o trabalho rs.
 Brincadeiras a parte vamos falar do TOC ao voltar para o trabalho. Durante as férias eu não tinha horário praticamente para nada e acordar a hora que quisesse (bom mais ou menos isso) e sem aquela obrigação de me arrumar a tempo de não chegar muiiiito atrasado no trabalho já me tirava um peso enorme da cabeça e minha ansiedade diminuia muito. Como ansiedade está diretamente ligada com o TOC ele também diminuia e ao fazer os rituais estando eu mais tranquilo eu demorava menos tempo do que o habitual.
Eu também podia fazer as coisas na sequencia que eu quisesse então se eu não conseguisse lavar o rosto por causa dos rituais eu descia para tomar café e depois fazia uma nova tentativa pois tinha tempo de sobra. Agora eu PRECISO lavar o rosto antes de descer e tomar o café pois para mim é muito custoso descer as escadas uma única vez, imagina descê-la e depois ter que subir e descer novamente só para lavar o rosto? Então ou fico na parte de cima até lavar o rosto ou desço e pulo essa parte.
Fazer o que vc tem vontade, fazer coisas agradáveis como ir ao cinema, passear no shopping, fazer algum trabalho manual e artesanal do qual vc gosta muito, se dedicar a um hobby é tratamento para qualquer doença e não seria diferente com o TOC. Tudo isso te ajuda a lidar melhor com o TOC, a diminuir a sua ansiedade e com isso vc dá menos atenção para o TOC.
Sabemos de tudo o que é bom para nós, sabemos que devemos fazer exercícios, que devemos ter uma alimentação saudável, sabemos o que deveriamos comer e o que não deveríamos, o duro e conseguir concilicar tudo isso com nosso tempo então nem sempre fazemos, comemos ou vivemos da maneira ideal e sim da melhor maneira possível.
O jeito é seguir em frente mas sempre tentando colocar nossa saúde em 1o lugar pois de que adianta ter dinheiro, tempo se não temos saúde para aproveitá-los? Nós que temos TOC temos que aprender a ser menos exigente com nós mesmo e relaxar mais pois talvez tenhamos que conviver com ele pelo resto de nossas vidas então vamos gastar nossas forças aprendendo a conviver com ele e não lutando contra ele.
Lembre-se que o ótimo é inimigo do bom

08 outubro 2010

Férias

É incrível o poder terapêutico das férias! Para algumas pessoas a solução dos problemas é o trabalho, a pessoa aumenta a carga de trabalho para pensar menos nos problemas. Para mim definitivamente a solução dos problemas são as férias.
Na última semana de trabalho antes das férias eu melhorei 50% do meu TOC. O fato de ter uma obrigação todos os dias - pelo menos todos os dias úteis - fazia com que minha ansiedade aumentasse e com isso os rituais ficassem mais frequentes. À 1a vista quem lê esse post acha que quem tem TOC é meio preguiçoso pois vive reclamando das coisas que tem para fazer mas quem tem TOC sabe o quão difícil é fazer uma atividade com milhões de pensamentos invadindo a mente e tendo que fazer rituais e malabarismos até completar a atividade.
Tem uma amiga que me relatou que largou o emprego dela de 10 anos pois não conseguia nem passar em frente ao emprego e não é raro encontrar pessoas que não conseguem sequer sair de casa devido a tantos rituais que tem para fazer antes de sair ou mesmo pelo medo exagerado de contaminação exercido pelo TOC.
Depois que passei a tomar medicamentos meu TOC não é mais incapacitante mas os diversos rituais antes de sair de casa para trabalhar, os rituais no trabalho somado à pressão sofrida na empresa, tanto pelo volume de trabalho quanto pelos olhares dos colegas, é de desanimar e elevar a ansiedade qualquer um. Sabendo que faltava 1 semana para as férias o humor muda para melhor, a ansiedade diminui  e consequentemente os rituais diminuem e o ambiente de trabalho passa a ser até mais prazeiroso.
Existem várias doenças que são consideradas incapacitantes e que a pessoa pode ser aposentada precoçemente mas nunca ouvi falar nada em relação ao TOC. Alguns portadores de TOC não conseguem uma melhora significativa nem com medicamentos e nem com terapias e seu TOC pernamece a um nível  incapacitante, impedindo que a pessoa realize muitas das atividades consideradas corriqueiras ou então fazendo com que essa pessoa demore horas para realizar essas atividades, trazendo para o portador muita ansiedade, angustia e até humilhação no caso de atividades que tenham que ser realizadas em público ou em grupo.
Ao contrário do que possa parecer não pretendo viajar nas minhas férias e passar ela toda deitado numa cadeira de praia, em frente ao mar e com um copo na mão. Pretendo trabalhar bastante mas em algo que eu goste, que me de prazer e que eu não seja obrigado a fazer e portanto não tenha prazo definido, cronograma e nem dia e hora para começar e terminar :) As férias são para me livrar do trabalho forçado, do trabalho escravo que sou obrigado a realizar, mesmo meio a pensamentos e rituais, para poder me sustentar mas não para me livrar do exercício de alguma atividade.
Espero aproveitar as férias também para poder postar mais aqui no meu blog, seja coisas úteis ou inúteis também, afinal não tem nada na vida mais inútil que o próprio TOC rs

23 setembro 2010

Depois da tempestade vem a bonança

Ouvimos muito essa frase mas será que a vivemos muito? Nesses meus 30 anos de TOC eu vivi muito essa frase, isso significa que vi muitas bonanças mas para isso também passei por muitas tempestades. Meu TOC sempre foi como um caminhar num terreno cheio de montanhas e vales, alguns períodos eu me sentia descendo a montanha em direção ao vale, as coisas iam piorando, os rituais iam ficando pior e por experiência eu sabia que nada como um dia após o outro para o que estava ruim ficar pior ainda. Mas por experiências também eu sabia que uma hora eu ia chegar ao fundo do vale (não confundam com o fundo do poço) e que chegando ao fundo, dali eu não passaria e não haveria outra opção senão começar a subida da montanha. Sabia que por pior que fosse a tempestade que eu estava passando uma hora ela haveria de acabar e quando acabasse viria a bonança. Então eu começava a subida da montanha e graças a Deus as coisas iam melhorando eu eu sabia que ficariam melhor até eu atingir o topo! Isso era um ciclo e as vezes as tempestades duravam mais que as bonanças e as vezes era ao contrário mas sempre uma vinha após a outra. Lembro-me de um trecho da bíblia que diz:
O choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã. Salmos 30:5
Então enquanto estamos na tempestade, chorando, devemos lembrar que a alegria vem pela manhã junto com a bonança.
Mas faz um bom tempo já que as tempestades tem durado muito mais que as bonanças. Tenho tido períodos muitos mais longos em que meus rituais são intensos e me pertubam muito e períodos bem curtos em que estou tranquilo. Essas semanas já acordava e colocava o pé no chão fazendo rituais e aí começo a brigar comigo mesmo mentalmente. Saio para trabalhar e fico xingando e brigando mentalmente com os demais motoristas, nunca vi cidade igual a minha para ter motorista ruim e egoísta. Realmente o TOC me tira o bom-humor. As pessoas sempre me perguntam se algo está acontecendo pois ando calado, sério. Já ouvi muito: mas vc não era assim, algo está acontecendo. E como responder: sim, algo está acontecendo mesmo, meu TOC está me matando! Se fizer isso metade vai sair correndo antes que esse "TOC" resolva matá-los também e a outra metade vai me perguntar se é contagioso antes de sair correndo. É complicado explicar algo tão complicado.
Dizer que se tem depressão é triste, falar que sofre de estress ou sindrome do pânico virou moda, falar que está com diarréia é feio mas dizer que tem TOC é proibido! Quem tem coragem de dizer: óh céus, ó vida, hoje meus rituais estão mais intensos e os pensamentos invasivos não me deixam em paz, sem correr o risco de ser olhado de baixo para cima, com aqueles olhos esbugalhados do colega ao lado?
Nessas horas me lembro do ditado que diz: de médico e louco todo mundo tem um pouco e começo a pensar seriamente em estudar medicina para ver se aumento esse meu lado de médico.
Agradeço a todos que postaram comentários nessas semanas pois várias pessoas postam perguntas e comentários sobre seu TOC mas nessas semanas que estou mais atacado do que nunca foram as semanas que as pessoas mais escreveram relatando suas experiências e isso ajuda um bocado.
Mas depois das tempestades vem a bonança, quanto mais escura a noite mais próximo está o amanhecer então só me resta esperar a bonança chegar :)

10 setembro 2010

Psicólogos: Será que Freud explica?

Psicólogos e psiquiatras são a mesma coisa? Cuidam dos mesmos problemas?
Não sou psiquiatra mas através de pesquisas descobri que Psiquiatria é uma especialidade da medicina que lida com a prevenção, atendimento, diagnóstico, tratamento e reabilitação das diferentes formas de sofrimentos mentais, sejam elas de cunho orgânico ou funcional, com manifestações psicólogicas severas. A meta principal é o alívio do sofrimento e o bem-estar psíquico. Para isso, é necessária uma avaliação completa do paciente, com perspectivas biológica, psicológica, de ordem cultural, entre outras afins. O psiquiatra pode fazer uso da psicoterapia porém para praticá-la o psiquiatra deve fazer a formação complementar sendo que os mais indicados para isso são os psicólogos.
Também não sou psicólogo mas por estudos sei que psicologia é a ciência que estuda o comportamento (tudo o que organismo faz) e os processos mentais (experiências subjetivas inferidas através do comportamento). O principal foco da psicologia se encontra no indivíduo, em geral humano. O psicólogo é o profissional que estuda esses processos mentais (sentimentos, pensamentos, razão) e o comportamento humano e está apto a realizar psicodiagnóstico, psicoterapia, orientação, entre outras.
Não sei se há um preconceito contra o psicólogo assim como há com o psiquiatra. Não achamos que psicólogos tratam somente de loucos porém muitas vezes somos céticos em relação a esses profissionais. Não acreditamos que eles possam entender nossa natureza complexa e que através de técnicas possam nos tornar pessoas melhores para nós mesmo. Eu não acredito que devemos mudar nosso "jeito de ser" (tradução para: personalidade) para agradar outras pessoas ou nos tornar pessoas melhores para os outros mas com certeza quando não estamos contentes consigo mesmo devemos sim procurar ajuda para que possamos mudar nossa maneira de viver, de enxergar e de lidar com tudo o que nos rodeia. As vezes a solução para problemas complicados são simples mas nosso modo de viver ou de encarar os problemas podem fazer com que tornamos as soluções muito mais complicadas que o próprio problema. Todos sabemos que falar de nossos problemas, contar sobre nossas vidas para outras pessoas aliviam e muito a carga que carregamos e as dificuldades que, antes da conversa categorizavamos como dificílimo de resolver, ao final da conversa já estamos mudando sua categoria para "um pouco complicadinho" para resolver. Quando essa pessoa além de nos escutar também nos mostra outras maneiras de abordarmos o problema, acabamos vendo que na verdade aquele problema não é tão complexo de resolver e que sim, ele é passível de ser resolvido.
O profissional indicado para isso é o psicólogo. Ninguém conhece vc melhor do que vc mesmo e mesmo assim vc não se conhece 100% mas ninguém está mais apto para te auxiliar a se conhecer melhor do que o psicólogo. Não sou nenhum garoto-propaganda do institudo de psicologia mas acredito que a psicoterapia pode sim ser muito útil no tratamento do TOC.
Já disse anteriormente que o TOC é causado em parte por uma "falha" no nível de serotonina em nosso cérebro e que o profissional indicado para tratar essa reposição de serotonina é o psiquiatra, e a outra parte responsável pelo TOC é nosso psicológico que deve ser tratado por um psicólogo. É possível sim vencer essa 2a parte sozinho ou com a ajuda de amigos e familiares mas não se sinta frustado caso não esteja conseguindo vencer o TOC, mesmo tomando medicamento, e necessite da ajuda de um profissional da psicologia.
Somos chamados de indivíduos porque temos nossas individualidades, porque cada ser humano age e reage de um jeito e não porque fomos feitos para viver isolados, de forma individual. Com a modernidade estamos cada vez mais atarefados, não temos tempo para conversar com o vizinho ou o colega ao lado, não temos tempo nem para nós mesmos. Com isso vamos nos sentindo cada vez mais isolados e a necessidade de desabafar, de conversar, cresce a ponto de fazermos isso com um estranho. Ainda bem que quando chegamos a esse ponto existe um profissional apto para isso, apto para nos ouvir.
Se Freud não explicar, procure um psicólogo que ele explica :)

02 setembro 2010

Psiquiatra: médico de louco?

Muitas pessoas enxergam o psiquiatra como um médico para loucos e eu não condeno essas pessoas porque um dia também pensei assim. Quando se fala em psiquiatra pensamos em um médico que cuida das pessoas que estão loucas, vendo coisas, ouvindo vozes ou então que estão com depressão, estressadas e que o psiquiatra irá receitar remédios que as deixarão dopadas e babando. Mas quando vc começa a ir a um psiquiatra, após relutar muito, vc passa a vê-los de uma forma diferente.
A minha demora para procurar ajuda para tratar meu TOC foi devido a 3 fatores: Em 1o lugar eu não sabia que o que eu tinha era uma doença tratável e conhecida pela medicina; em 2o lugar eu não sabia que médico procurar para tratar de algo que eu não sabia nem o que era; e em 3o lugar quando tudo apontava para que eu procurasse um psiquiatra para saber o que eu tinha e me tratar, veio o preconceito pelo médico psiquiatra pois eu não era um louco e também não queria ser tratado por um médico de loucos.
Vencidos esses 3 obstáculos eu procurei um psiquiatra e minha mente se abriu. Passei a entender muito mais o TOC, passei a ver os psiquiatras com outros olhos e passei a me tratar com medicamentos. Por isso criei esse blog com o objetivo de ajudar as pessoas a vencerem esses 3 obstáculos também. Aqui as pessoas podem identificar se o que tem é TOC ou não, podem se informar sobre os tipos de tratamentos existentes para o TOC e espero que depois desse post possam vencer o preconceito contra os psiquiatras pois eles não são apenas médicos para loucos.
Os psiquiatras são médicos que tratam uma parte do seu corpo assim como qualquer outro médico, que receitam remédios assim como qualquer outro médico, a diferença é que eles tratam uma parte do nosso corpo muito complexa, uma parte que nem sempre responde de forma igual para todos os pacientes quando se toma o mesmo medicamento e na mesma dosagem. Por isso, muitas vezes , o tratamento psiquiátrico exige um pouco mais de tempo do que os demais tratamentos.
É importante escolher bem o médico psiquiátrico pois como ele trabalha com a mente humana e com remédios que podem mudar nosso comportamento temos que ter total confiança neles e eles precisam estar mais atentos a seus pacientes e sempre se reciclando pois a medicina como um todo evolui muito porém a mente humana ainda é um grande mistério para os médicos e a cada dia se fazem novas descobertas.
A doença da mente pode ser causada por fatores químicos como a falta de uma determinada substância no organismos ou por fatores psicológicos, como um trauma na infancia, uma educação deturpada ou por manias que acabamos incorporando em nossas mentes como parte de nossas rotinas. Para tratar os fatores químicos devemos utilizar remédios e para os fatores psicológicos temos a psicoterapia ou a terapia com psicólogo. Falaremos dos psicólogos em outro post.
Como em todo e qualquer tratamento, também não devemos abandonar ou parar na metade um tratamento psiquiátrico. Muitos medicamentos tem efeitos colaterais quando tomamos e efeitos muito piores quando paramos com eles de uma hora para outra sem fazer a retirada gradual. Além desses efeitos indesejados de parar a medicação ainda temos, muitas vezes, a volta do problema no qual estávamos tratando e muitas vezes a recaída é pior do que o problema inicial.
Eu aprendi a gostar do meu psiquiatra, ele me ouve com a maior paciencia :). Tudo bem que ele é pago para isso mas tem muita gente que pagaria para eu ficar quietinho rs

26 agosto 2010

Lembranças de um passado recente

30 anos não apagaram minha lembranças sobre o TOC. Se me recordo do meu 1o ritual, como eu poderia esquecer de outras coisas tão marcantes quanto o 1o ritual? Poderia colocar tudo em um livro ou até em uma enciclopédia inteira.
Hoje enquanto tomava uma xícara de café aqui na empresa eu vi uma outra pessoa pegando café naqueles copinhos plásticos de 50ml que mais parecem um dedal e isso me remeteu a 10 anos atrás quando começei a tratar do TOC com medicamentos. Todo medicamento tem efeitos colaterais então evito ler essa parte da bula para não ser influenciado pelos relatos que ali constam mas com o tempo descobri que a clomipramina é um dos medicamentos para TOC que mais tem efeitos colaterais. Dentre os vários efeitos vou citar apenas a boca seca e tremores que foram os sintomas que mais me atrapalharam no começo do tratamento.
Eu estava fazendo treinamento a semana toda e na metade da manhã, como de praxe, tinha um café muito bem servido pois o curso não era barato (ainda bem que quem pagava era a empresa). Nessa época eu tinha a boca muito seca, não conseguia falar por mais de 5 minutos sem beber um gole dágua pois meus lábios começaram a grudar na gengiva e a língua no céu da boca. Também tinha tremores na mão que não chegavam a me atrapalhar na hora de escrever ou digitar mas quando precisava pegar algo ou então quando esticava as mãos os tremores eram perceptíveis. Não bastava eu ter que esconder meu TOC, agora também tinha que disfarçar a boca seca e os tremores.
Voltando à mesa do café, já era dificil para mim pegar suco nos copos plásticos de 200ml pois eu tremia um pouco, agora imagina colocar café num copinho minúsculo no qual precisa-se de uma mira melhor, adoçar, mexer com a colher sem derramar e a pior parte..... tentar tomar. Eu erguia o copo e começava a tremer e quanto mais eu me aproximava da boca tentando acertá-la sem derramar mais aumentava a tremedeira como se eu estivesse levantando 5kg de peso após 2hs de aula de musculação. Depois da 3a tentativa não tive como não rir e a solução foi beber um pouco do café com o copinho apoiado mesa para depois levá-lo à boca :)
Naquela época eu era mais desinibido em relação ao TOC e não havia problema nenhum para mim em falar do TOC ou rir dele. Eu tinha um colega de curso que também tremia um pouco. Ele me disse que também era por causa de uns medicamentos que ele tomava mas nunca nos aprofundamos no assunto um do outro, apenas dávamos risada quando iamos tomar café.
A boca seca também me pregou uma peça quando tive que fazer uma apresentação para o pessoal de trabalho. Levei pouca água para a apresentação e mal começei e a água já havia acabado. O pessoal ficou empolgado com a apresentação e começou a fazer cada vez mais perguntas e minha boca foi secando e amarrando como se eu estivesse comendo um cajú verde a tal ponto de quase nem eu mesmo entender o que estava falando. Uma cena que exemplifica bem essa situação é a do filme EU, EU MESMO & IRENE onde o Jim Carrey, que está tomando anti-depressivos devido ter sido abandonado pela esposa, aparece bebendo toda a água do bebedouro e quando ele fala sua boca está branca e seus lábios grudados na genviva.
Mas com o tempo esses efeitos colaterais foram diminuindo e alguns até desapareceram.
Como diz meu irmão: não existe almoço grátis. É o preço que se paga para se livrar de algo pior.

25 agosto 2010

Ansiedade no último!

Sempre fico no mesmo dilema da Tostine: Sou ansioso porque tenho TOC ou tenho TOC pq sou ansioso? Sei que a ansiedade está diretamente relacionada com o TOC mas não sei quem veio primeiro, se o TOC ou a ansiedade.
Mas assim como não sabemos quem veio primeiro, se o ovo ou a galinha - e isso não nos faz falta - acredito que também não faz diferença quem veio primeiro, se o TOC ou a ansiedade. O que importa é que com o aumento da ansiedade os rituais tendem a aumentar também. E muitas vezes quando não conseguimos nos libertar de um determinado ritual, vamos ficando cada vez mais ansioso e esse ciclo vicioso nos leva a quase explodir!!! Mas calma porque nunca ninguém explodiu por causa do TOC, pelo menos não no sentido literal da palavra.
Aprendendo a controlar a ansiedade ou a lidar com ela podemos reduzir as compulsões ou até eliminá-las completamente. Não temos, muitas vezes, como eliminar por completo as obsessões pois não podemos controlar nossos pensamentos e impedir de pensar coisas que não queremos ou que não nos agrada. Também não há como eliminar por completo nossa obsessão por limpeza ou por organizar as coisas mas podemos sim controlar e eliminar as compulsões que essas obsessões nos trazem. Podemos evitar de lavar as mãos toda hora que achamos que ela está suja ou podemos deixar de evitar tocar em algo por achar que iremos nos contaminar. Essas atitudes de evitar as compulsões claro que num primeiro instante nos trará mais aflição e ansiedade do que se simplesmente nos rendessemos aos rituais pois realizamos os rituais justamente para minimizar essa ansiedade mas ao longo do tempo, aos poucos, com calma, essa ansiedade vai diminuindo conforme vamos deixando de realizar algumas compulsões. Assim como nossa mente se habituou a realizar os rituais para minimizar a ansiedade, com o tempo nossa mente vai se habituando a não mais realizar os rituais quando ela é tomada por algum pensamento impuro, por algum medo de contaminação ou pela dúvida se realizamos ou não determinada checagem.
Descobrindo e entendendo o que nos deixa ansioso ou o que aumenta nossa ansiedade podemos aprender a como lidar com essa ansiedade para minimizá-la e ficar mais tranquilo antes de sair por aí fazendo rituais. Depois que dominamos a ansiedade e ela dimuniu ou mesmo vai embora sentimos que não é mais necessário fazer os rituais que tinhamos compulsão por fazer.
Controlada nossas obsessões e dominada nossa compulsão podemos sim levar uma vida "normal". Digo "normal" entre aspas pois esse normal é muito relativo. Se olharmos de perto ninguém é normal, todo mundo tem uma coisinha ou outra que foge do que se estabeleceu por padrão como "normal".
Levar uma vida normal para mim é levar uma vida na qual eu não seja escravo de nada, nem bebida, nem cigarros e muito menos do TOC. É levar uma vida onde se encontra obstáculos mas se tem equilíbrio para ultrapassá-los, uma vida onde encontraremos dificuldades sim mas saberemos lidar com essas dificuldades sem atingir nenhum extremo.
Uma vida normal é ter de volta o controle do meu pensamento, da razão, da certeza e da ansiedade.

24 agosto 2010

Varrendo as folhas

Olá a todos, sei que estou sumido faz uns 10 dias mas é que foi uma combinação de saco cheio com muito trabalho para fazer. Quando aqui estava sossegado não tinha vontade de postar e quando estava com vontade de postar havia muita coisa para fazer no trabalho. Agora deu para conciliar vontade com tempo livre :)
Nessa semana de correria teve um dia em que eu não tomei café em casa para não chegar muito atrasado no trabalho então depois que eu cheguei e coloquei as coisas em ordem eu fui até a lanchonete tomar meu café da manhã. Não foi a 1a vez que fiz isso e por enquanto não será a última mas quem sabe logo poderei ir na lanchonete quando eu quiser ou quando der saudades de tomar café lá e não porque precisei deixar de tomar café em casa por causa do TOC.  Nesse dia em específico estava agitado devido aos vários compromissos aqui e o TOC parece que resolveu me perseguir com mais vontade e eu pulava todas as rachaduras do caminhho do meu prédio até a lanchonete e algumas vezes eu voltava para pisar novamente nos quadrados que já havia pisado. Como sempre passei pelo tiozinho que fica varrendo as folhas da calçada porém dessa vez estava com a cabeça em outro lugar e não prestei a atenção que ele havia parado de varrer para eu passar. Pulei algumas rachaduras e voltei várias vezes para pisar nos quadrados até que consegui seguir em frente e quando dei conta vi que o tiozinho estava parado, com a vassoura na mão, esperando eu terminar meu vai-e-vem para poder continuar a varrer. O olhar dele era de dúvida e sua expressão era um ponto de interrogação misturado com um ar de espanto. Não tentei explicar o inexplicável, não estava com paciência, tempo e nem vontade de fazê-lo. 30 anos de TOC me levaram de uma pessoa tímida, que tinha vergonha de seus atos, passando por alguém que passou a encarar seu problema de frente até alguém que cansou de se explicar e cada um pense o que quiser.
Apesar disso, durante o café a imagem dele varrendo as folhas secas que caíam das árvores para que o caminho ficasse mais limpo e bonito não me saia da cabeça. Ele não tinha TOC mas todos os dias fazia as mesmas coisas, varria as folhas que caíam, juntava elas em um canto e depois recolhia.
De um certo modo eu também "varria" todos os dias para debaixo do tapete os vestígios dos meus rituais para que as pessoas não vissem que eu tenho TOC, varria meu cansaço, meu desânimo para debaixo do tapete para que as pessoas ao meu redor não se cansassem de mim. Varria meu descontentamento para debaixo do tapete e colocava um sorriso no rosto só que esquecia de recolher tudo debaixo do tapete e jogá-los fora. Com isso eu ia acumulando cada vez mais lixo debaixo do meu tapete e aos olhos dos outros eu estava melhorando mas interiormente eu estava ficando sobrecarregado com tanto peso.
Resolvi botar todo esse lixo para fora contando aqui meus "causos", sendo assertivo e expondo para as pessoas o meu modo de pensar, os meus sentimentos sem agressividade e sem aceitar fazer algo que não me agrada somente para agradar a outra pessoa.
Aconselho a todos a fazerem o mesmo. Não é preciso esbravejar e jogar tudo para o alto, basta expor de modo educado seu ponto de vista, seus sentimentos e suas vontades e parar de se esconder ou varrer para debaixo do tapete tudo o que vc considera como "defeito" seu.
O espaço de comentário está aberto para vcs jogarem fora tudo o que lhes incomoda.

13 agosto 2010

Tédio

Depois do dia de cão veio o dia de tédio.
Como eu já comentei, ter coisas demais para fazer e ter que fazê-las sob pressão não é bom para quem tem TOC pois a ansiedade aumenta e com ela os rituais mas ter tempo livre de sobra não ajuda muito pois como não estamos entretido em nenhuma atividade acabamos pensando mais no TOC e dando mais atenção ao rituais.

Aos mesmo tempo em que quero descansar quero ser produtivo. Ao mesmo tempo em que tenho várias coisas para fazer em casa, fico mais tempo no trabalho do que em casa só que não posso fazer no trabalho as coisas de casa e nem posso descansar no trabalho mesmo quando está sossegado. Só me resta, no trabalho, ficar ansioso com as coisas que tenho para fazer em casa, enquanto me sobra tempo para pensar nos rituais e em casa só me resta quase pirar de tanta coisa que tenho para fazer, ao mesmo tempo em que quero descansar pois uma mínima tarefa me custa muito esforço e tempo para realizar.
Tenho TOC a tanto tempo e era tão novo quando começei que quase não me recordo de como era a minha vida sem o TOC então não consigo imaginar como será a minha vida sem o TOC. Como seria colocar a camiseta que mais gosto ou a que mais combina com o meu humor e com a bermuda que estou? Como seria descer apenas uma vez a escada, ao invés de ficar subindo e descendo várias vezes até as pernas cansarem e eu ficar sem fôlego? Será que eu saberia andar na calçada pisando nas rachaduras ou teria de re-aprender a andar dessa maneira?
O pesadelo do TOC me persegue a tantos anos que não consigo sonhar acordado em como seria a minha vida sem ele. Muitas vezes me imagino com a Síndrome de Estocolmo, sou refém do meu próprio TOC e não sei como sobreviver sem ele. Tantos anos me tornaram um "dependente psicológico" do TOC por isso decidi e começei a fazer terapia seguindo a linha cognitivo-comportamental. Minha amiga Paula, uma ex-dependente do TOC :), tem me animado muito com seus depoimentos pois ela se libertou das garras do TOC fazendo terapia e provou que existe uma luz no fim do tunel (e não é o trem vindo não, é a cura mesmo). Dizem que nunca ficaremos livres dos pensamentos invasivos e das preocupações mas quem está livre deles? E levando essas preocupações a um nível aceitável, no qual dominamos os pensamentos e não somos dominados por eles já é uma enorme vitória.
Outra pessoa que tem me animado bastante é a Débora, ela quase sempre escreve no meu blog e lendo seus depoimentos, desde o 1o até o atual, percebemos a nítida melhora que ela vem tendo devido ao inicio do tratamento com medicamentos.
Se conheço pelo menos uma pessoa que venceu e outra que vem melhorando dia-a-dia com sua persistência não sou eu que vou parar no meio do caminho e dizer: Não brinco mais.
Dizem que "atrás de todo grande homem sempre tem uma grande mulher" mas no meu caso, como sou baixinho rs, preferi colocar essa grande mulher ao meu lado ao invés de atrás de mim pois não quero que ela me empurre para frente mas sim que ela me conduza e caminhe ao meu lado nas vitórias. E quando ela não facilita as coisas para mim ela me carrega nas costas fazendo as coisas por mim.
De quebra veio outra grande mulher - que por enquanto é pequena - para caminhar do meu outro lado mas creio que antes mesmo de que ela possa se entender por gente eu já esteja caminhando sem o TOC.
O que seria dos homens sem as suas mulheres :)

10 agosto 2010

Dia de cão

Não sei porque essa expressão "dia de cão" mas eu acho que ela cabe bem ao meu dia de hoje que mal começou. Sabia que tinha uma reunião as 9:00hs e eu odeio quando tenho reunião logo cedo - sim, para mim 9:00hs é cedo - pois isso me impõe um limite de horário para chegar ao trabalho e para quem tem TOC, horário para chegar nos lugares e pressão para não atrasar não acabam bem. Nunca consigo chegar antes das 8:30hs mesmo mas geralmente chego as 8:50hs ou no máximo as 9:00hs então ainda estaria dentro do horário. Hoje, claro, consegui bater o recorde e mesmo saindo de casa sem tomar café da manhã consegui me enrolar até chegar as 9:10hs aqui. Para variar aqui na empresa tem mais vagas reservadas do que vagas livres e as mais próximas do meu prédio ou estão reservadas ou já estão ocupadas mas também é querer demais chegar as 9:00hs e ainda encontrar vaga perto. Vaga para deficiente e vaga reservada por determinação médica para quem precisa tudo bem mas o pessoal ainda inventou de pintar algumas vagas reservadas para diretores, algumas vagas operacionais (não me pergunte para que servem pois sempre estão vagas) e como se ainda não bastassem essas vagas ainda existem algumas vagas em que se encontram cones e somente determinadas pessoas podem parar nessas vagas. Ainda bem que não existe descriminação racial aqui senão cada vaga teria uma cor diferente para cada cor de pessoa. Tudo bem, vamos parar longe então, mesmo que isso me custe ter que pular 40 rachaduras a mais, subir 80 - isso mesmo, oitenta - degraus a mais, fora desfilar minhas esquisitices por 50m a mais do que se eu parasse em uma vaga perto. Mas.... surpresa! nem as corriqueiras vagas distantes estão vazias.....o povo todo, em complô contra a minha pessoa é claro, resolveu vir de carro justo hoje que tenho reunião. Restaram duas opções, dar uma volta inteira em torno da empresa procurando vaga ou então dar uma de "joão sem braço" e parar em um lugar que não é vaga mas que não atrapalha ninguém e depois da reunião procuro uma com calma. Optei por parar em local "proibido" só por alguns minutos e depois de todo o ritual para fechar o carro, consegui pular as 50 rachaduras - 10 rachaduras próximas do meu prédio mais as 40 rachaduras por ter parado longe - subir os 100 degraus e chegar, em tempo recorde, as 9:10hs na minha baia :) E a reunião havia sido cancelada :(
Decepcionado e feliz ao mesmo tempo vamos tomar o café da manhã e quem sabe deixar o carro no local "proibido" afinal não será facil voltar no caminho descendo agora os 100 degraus, pulando as 50 rachaduras, achar uma vaga e fazer todo o ritual de fechar o carro e ainda ter que enfrentar os mesmos obstáculos de volta (cansei só de escrever). Mal acabo meu café e meu celular toca, era a secretária dizendo que a portaria pediu que eu retirasse meu veículo com urgência pois estava em local proibido. Acredito que cansados de ligar na minha baia e não encontrar ninguém ligaram para a secretária e ela ligou no meu celular para remover o veículo com urgencia. Pelo empenho do pessoal da segurança  fiquei com medo que meu carro estivesse  pegando fogo ou então impedindo que o helicóptero do presidente decolasse! Sorte dele que eu estava tomando café pois se eu tivesse acabado de entrar no banheiro para "obrar" ele ia ter que espera um pouquinho para decolar :)
Lá se foi a alegria de não ter que refazer o trajeto. Tirei o carro - que não estav apegando fogo nem impedindo ninguém de sair- rodei a empresa pois se 9:00 não haviam mais vagas imagina agora, as 9:45hs. Perto do prédio nem pensar em ter vagas, apenas os cones personalizados aguardando seus donos chegarem. No estacionamento meio longe onde eu estava também não.... no estacionamento mais longe ainda onde costumo parar quando não tem vaga haviam 3 vagas sendo ocupadas por 4 carros! Esses mereçem o prêmio de "melhor utilização do solo" mas deixa a segurança descobrir e já era a criatividade deles de transformar 3 vagas em 4.
Quando estava quase em desespero, achando que eu teria que parar no lixão (o pessoal deu esse nome porque é um estacionamento muito distante, ocupado pela caçamba de lixo) achei uma vaga abençoada no estacionamento distante, de onde havia retirado meu veículo perturbador da paz :). Agora é só fazer o ritual de fechar o carro, pular as rachaduras.... subir as escadas.... etc, etc.
É..... isso porque o dia mal começou.....

05 agosto 2010

TOC: Ou ele me mata de rir ou de vergonha

O TOC já me colocou em várias situações, algumas engraçadas, outras vergonhosas mas depois de 30 anos com ele e principalmente depois de ler tantos depoimentos e relatos sobre TOC ando achando as situações que ele me coloca mais engraçada do que constrangedora.
Terça cheguei ao trabalho atrasado para variar e na ansiedade de chegar logo à minha mesa claro que em determinados momentos os rituais ficaram um pouco pior. Quando vc está tranquilo, não fica tão ansioso e os pensamentos invasivos não te atrapalham muito e vc vai seguindo seu caminho. Mas quando vc precisa fazer algo importante, rápido ou quando há muitas pessoas te observando a ansiedade aumenta e com isso sua cabeça é inundada de pensamentos invasivos e começa o festival de rituais.
Subindo as escadas do trabalho eu ia seguindo com a minha mania de subir alguns degraus e voltar um para trás ou então apenas tocar o pé no degrau anterior. Quando havia alguém atrás eu subia um pouco mais devagar para que a pessoa me ultrapassasse e não notasse meus "coiçes" nos degraus anteriores ou  para que não levasse nenhum coiçe meu. Fui subindo até o meu andar e bem no final havia uma moça da limpeza passando pano na escada. Cumprimentei ela e, claro, subi 2 degraus e senti a necessidade de tocar no penúltimo degrau antes de continuar mas como voltar 2 degraus sem atrapalhá-la? Dei uma paradinha e nesse momento ela virou de costa para mim para molhar o pano e eu, sem sair do degrau que estava, estiquei a perna para trás, alcançei 2 degraus para baixo e toquei com a ponta do meu pé e rapidamente voltei para o degrau em que estava :).
Disfarçada básica, segui mais feliz por ter superado mais essa mas, para variar, senti que ela estava me olhando. Olhei para trás e vi, não somente ela mas também sua colega de trabalho que estava um lance de escada acima :(. No momento crítico de decidir em milisegundos como voltar atrás sem que ela percebesse, voltei todos meus 6 sentidos somente para a moça da limpeza ao meu lado e me esqueci que, apesar de eu ficar no último andar do prédio, ainda havia mais um lance de escada que leva ao telhado e que alí, não só poderia como estava, mais uma observadora das minhas esquisitiçes.
Sua colega deu uma risadinha e baixou a cabeça, provavelmente estaria se perguntando o porque daquele contorcionismo matinal bem atrás de sua outra colega.
É tia da limpeza, é rir para não chorar :)
Eu ainda vou ser preso por assédio sexual num desses disfarçes mal sucedido rs

02 agosto 2010

Começa tudo de novo.

Segunda-feira começa e com ela vem todo o stress do TOC. Incrível como no final de semana o TOC reduz bastante e na segunda ele começa mais atacado do que nunca. Ontem ao invés de assistir ao Fantástico eu assiti ao Domingo espetacular na Record e passou uma reportagem interessante sobre o TOC. Assim que tiver o link da matéria na internet eu coloco aqui.
Contou a história de 3 americanos que tem compulsão por armazenagem, eles guardam tudo quando é tipo de coisas que não tem utilidade em suas casas pois acreditam que um dia elas possam ser úteis ou porque tem algum valor afetivo. O 1o caso era um americano que guardava muitas coisas em seu pequeno apto em Nova Iorque a 10 anos já e fazia 2 anos que ele não tomava banho em seu banheiro, somente no banheiro da academia pois o seu banheiro estava abarrotado de coisas que ele guardava. O 2o caso era de uma americana que começou a guardar todo tipo de embalagem vazia, coisas quebradas, etc a ponto de em seu quarto só caber ela, seu marido dormia em um cômodo a parte pois era organizado e não gostava das bagunças da mulher. Essa americana, com a ajuda de uma "organizadora pessoal" separou algumas coisas para vender no bazar organizado na garagem de sua casa mas assim que ela conseguiu vender algumas coisas, pegou o dinheiro e foi em outros 3 bazares comprar coisas inúteis para variar. O 3o caso era de uma sra. que vivia com um filho e uma filha já adultos e o neto. Ela saia pela vizinhança pelo menos 3x por semana para pegar coisas que as pessoas jogavam no lixo mas que ela acreditava ser útil um dia.
A característica dessas pessoas que possuem TOC e tem compulsão por amazenagem é que elas acham que aquilo que estão guardando vai ser útil um dia, embora faça anos que guardam esses objetos sem tê-los usados uma única vez. Ou então elas acham que aquele objeto tem um valor snetimental muito grande e que não podem se desfazer deles. Um jeito de ajudá-las é separar as coisas que ela acha que tem menos valor afetivo ou menos utilidade e ir se desfazendo aos poucos até chegar nos de "maior valor afetivo e utilidade" segundo ela mas que na verdade também não possuem utilidade.
A reportagem mostrou também uma brasileira que tem TOC e compulsão por contagem. Tudo o que ela faz ela é obrigada a separar em 4, contrar cada uma 4x e ainda falar o nome de cada coisa 4x. Para fazer arroz ela separou na panela de um lado o óleo, de outro o sal, do outro a cebola e do outro o alho. Ela tinha que contar cada um deles 4x e falar: óleo, sal, cebola, alho, 4x também antes de misturar os ingredientes.
Ela nao quiz mostrar o rosto de vergonha e medo do preconceito, principalmente preconceito contra seu filho. Infelizmente as pessoas são muito preconceituosas e as crianças, que não tem uma boa educação em casa, acabam sendo até mais preconceituosos que seus pais.
Pena que não consegui gravar para disponibilizar no Youtube mas se alguém conseguiu ou sabe se em algum site tem a reportagem me avise que disponibilizo aqui.
PS.: Escrevi 2x para a Record mas não me deram resposta e nao achei a reportagem em nenhum outro lugar

30 julho 2010

Fim da semana....inicio do descanso?

Sexta-feira é muito bom, venho até um pouco mais animado para o trabalho. Antigamente eu começava a semana meio desanimado e chegando próximo da sexta-feira começava a ficar mais animado. Acho que tudo começa com aquela musiquinha do Fantástico, quando ela começa vc já sabe que o fim de semana acabou e logo chega a segunda-feira. A semana vai passando e quando chegava a quinta-feira eu já estava bem animado e na sexta era só alegria.
Hoje mudou um pouco, eu começo a segunda bem mais desanimado que antes, quando chega na quinta ainda estou desanimado e na sexta dá uma alegria um pouquinho maior. Sei que o final de semana chegou mas sei também que mais rápido do que penso logo vem a segunda. É normal que as pessoas com TOC desenvolvam outros tipos de patologias, co-morbidades, como: tiques, depressão, transtorno do pânico, transtorno bipolar, etc. então acho que é normal esse desânimo.
Não tenho muita vontade de sair de casa, não somente para vir trabalhar como para passear também. Sempre estou desanimado com algo e se tento fazer alguma coisa fico desanimado porque o TOC não me deixa, se desisto de fazer para não ter que enfrentar o TOC também me desanimo porque nem tentei. Uma coisa que me pergunto é: como posso ter depressão se tomo anti-depressivo que também atua como anti-obsessivo?
Para muitas coisas não temos resposta e acho que essa é apenas mais uma delas. Talvez o óscio seja um inimigo tão grande que por mais anti-depressivos que vc tome não há como não ter nem uma leve depressão meio a tanto óscio.
Outra coisa que pode trazer a depressão é a cobrança que o portador de TOC se faz. Ele é muito rígido consigo mesmo e vive se cobrando para fazer as coisas perfeitas e para sempre estar fazendo alguma coisa de útil. Para mim descansar não é fazer algo, pelo menos não algo de útil. Muitas vezes não enxergo que descansar, assistir a um filme também é fazer algo, só que algo para o meu bem-estar. Acabo encarando isso como óscio e logo procuro algo para fazer senão me sinto inútil e com isso faço mais rituais meio a essas tarefas que arrumei e fico mais cansado ainda.
Nada melhor para todas essas neuras que o próprio fim de semana né? Mas o tão esperado fim de semana e tempo para descanso acaba se tornando tempo de tormento. Como não estou trabalhando me cobro para fazer o máximo de coisas possíveis em casa pois logo chega a segunda e aí sim não terei tempo de fazer mais nada. Mas vamos ver se consigo pelo menos um fim de semana sentar e fazer algo produtivo,  tipo: fazer NADA! :)

29 julho 2010

Na mira dos olhares

No TOC nada é agradável mas não tem nada pior do que os olhares indiscretos das pessoas que estão a sua volta. Não posso dizer que me sinto como um bicho no zoológico pois os olhares das pessoas para esses animais são olhares graciosos, cativos, olhares de ternura - apesar de que eu não entendo como alguém pode sentir prazer e ainda levar os filhos para "passear" no zoológico. No meu próximo passeio vou levar meu animalzinho de estimação para passear no presídio, com direito a pipoca e bexiga.
Os olhares das pessoas para quem tem TOC e está agonizando em um de seus rituais é um olhar perverso, de curiosidade maldosa e de puro deboche. Uns disfarçam e dão olhadinhas rápidas e (in)discretas mas sem perder um só movimento ornamental desses rituais. Outros na maior "face wood", conhecida também como "cara-de-pau", fixam bem o olhar, colocam os óculos para não perder um só movimento e ainda cutucam o colega ao lado para que o mesmo desfrute dessa "comédia da vida privada" que a gente não ve todo dia.
Uma vez ao tocar o sinal para troca de aula, eu estava saindo da sala mas antes tinha que verificar embaixo da carteira se não havia esquecido nada. Abaixava e levantava várias vezes balançando a carteira num frenesi alucinante (desculpe o pleonasmo) até que ouvi uma voz grave me perguntando: Está acontecendo alguma coisa?. Parei na hora e olhei para trás e meu professor estava me observando - nem quero saber a quanto tempo - e agora aguardava uma justificativa para tal atitude que muitos considerariam insana porém eu a classificaria como heróica pois não é qualquer um que topa "pagar um gorila" desses para salvar vidas. Para isso é preciso ter peito, ou TOC.
Os mesmo neurônios que antes estavam com problemas de comunicação devido a baixa serotonina agora se uniam para criar uma desculpa criativa e convincente: - Estou verificando e essa carteira parece estar mal parafusada pois balança muito quando mexemos nela. O professor ainda me agradeceu por essa observação.
Aqui no meu trabalho ficamos em baias - sim, apesar de não sermos cavalos nos posicionamos em baias - com 4 pessoas cada e para chegar até minha baia preciso passar pela 1a baia onde sentam dois colegas, um de cada lado da passagem. No princípio pensei se tratar de dois gayzinhos apaixonados devido à troca de olhares e sorrisos entre eles cada vez que eu passava e estava até achando lindo isso mas "a ficha caiu" e vi que era o meu ritual para entrar e sair da baia que despertava esse sentimento entre eles.
Que bom se todos continuasse com seus trabalhos ou apenas olhasse como se aquela fosse uma cena do cotidiano mas não é assim que acontece. O que devo fazer então? Esconder-me de todos? Não sair de casa? Parar meu ritual, esperar que todos voltem às suas posições e então continuar? Acho que nada disso seria saudável para mim então simplesmente sigo em frente, continuo com o que estou fazendo e dane-se os olhares e as pessoas que acham graça de algo que nem sabem o que é.
Perdoem o humor ácido e o pouco valor instrutivo desse post mas é que as vezes eu penso que se todo mundo cuidasse da sua própria vida assim como cuida da vida alheia os planos de saúde iriam à falência e não haveria fila no SUS.

27 julho 2010

Família

Eu li que a família pode influenciar muito na vida de quem tem TOC assim como quem tem TOC também pode influenciar muito na vida da família. É muito comum a família se adaptar a quem tem TOC, muitas vezes entrando em seus rituais e realizando-os para que não haja maiores conflitos entre a família e o membro portador de TOC. Isso traz um desgaste para os membros da família pois muitas vezes eles entram nos rituais do portador de TOC contra a sua própria vontade e caso decidam não fazer parte dos rituais geram um conflito com o portador de TOC.
Mas quem tem TOC não é o único vilão, a família também pode influenciar na vida de quem tem TOC.
"A ciência está procurando esclarecer se existe ou não alguma herança genética e de que forma ela se dá, no TOC, pois é muito comum que existam várias pessoas apresentando os sintomas, numa mesma família. Não se sabe se isso ocorre por força de herança genética ou da influência que um membro podem ter sobre os outros – a chamada aprendizagem social"
Se vc tem TOC há grande probabilidade que vc tenha herdado ele da sua família ou então que sua família o tenha influenciado sendo muito rígida em relação a lavar as mãos antes do almoço, antes de pegar o bebê, depois de brincar com o cachorro, antes de pegar o pedaço de bolo, antes de colocar a mão na boca do seu irmãozinho, etc. Claro que higiene é bom e não faz mal a ninguém, o que faz mal é o exagero, é o ato de forrar a privada com papel higiênico mesmo ela estando aparentemente limpa como se o papel higiênico fosse algum isolante para bactérias.
Outra maneira que a família influencia em relação ao TOC é a pressão que ela te faz e as constantes desavenças. O TOC geralmente gera uma grande ansiedade para o portador e quando essa ansiedade aumenta, seja pela pressão que está sofrendo ou por não ser bem compreendido, a tendencia é que o portador se entregue mais aos rituais. Aumento da ansiedade -> aumento da obessão -> aumento da compulsão (ou rituais).
É muito importante que a família participe do tratamento e da vida de quem tem TOC. Ela pode ajudar tanto auxiliando o paciente a identificar seus sintomas como no apoio na realização das tarefas de casa prescritas durante a terapia. Também pode ajudar não lavando as roupas “contaminadas”, nas quais o paciente não toca, e que portanto é desnecessário lavar; não oferecendo reasseguramentos; não respondendo várias vezes às mesmas perguntas do portador; e não evitando os lugares que o paciente tem medo de freqüentar.
Afinal, família é e sempre será tudo na vida :)

22 julho 2010

De onde vem esse TOC?

Eu nunca quis saber de onde vinha meu TOC, na verdade quando eu ainda não sabia que eu tinha TOC eu não achava que isso era uma doença portanto não pensava se era algo genético ou se era algo contagioso. Eu sabia que era algo da minha cabeça e pensava ser somente da minha cabeça, que nenhuma outra cabeça no mundo tinha isso.
Depois que fui diagnosticado com TOC procurei saber mais sobre essa doença, qual o caminho para cura, quais as manifestações, o relato de outras pessoas, etc e busquei pouco as causas para o TOC ou as possíveis causas para o meu TOC. Achava que isso não era importante mas me aprofundando mais vi que entender o mecanismo do TOC e suas possíveis causas é importante sim para te levar até a cura por isso resolvi escrever um pouco mais sobre as causas do TOC.
A ciência tem conseguido esclarecer vários fatos em relação ao TOC embora não consiga ainda esclarecer suas verdadeiras causas. Pelo que vejo a ciencia chegou à conclusão de que o TOC tem uma natureza biológica: envolvendo aspectos genéticos, neuroquímica cerebral, lesões ou infecções cerebrais; e fatores psicológicos como: a aprendizagem; certas formas errôneas de ver e interpretar a realidade próprias dos portadores do TOC, e até culturais.
A natureza biológica é verificada e comprovada com o fato de o TOC ocorrer após traumatismos, lesões ou infecções cerebrais; ser muito comum que numa mesma família existam vários indivíduos acometidos sugerindo uma predisposição genética e a descoberta de que determinados medicamentos que estimulam de alguma forma a assim chamada função serotonérgica cerebral reduzem os sintomas de TOC. Esse último dado nos faz crer mais ainda que exista um distúrbio neuroquímico do cérebro. O que ainda não foi possível esclarecer é porque muitos indivíduos respondam parcialmente ou não respondam ao tratamento com medicamentos inibidores da recaptação da serotonina. Exatamente por sermos indivíduos nossas respostas a determinado tratamento é única não podendo ser comparada com nenhuma outra pessoa. Por isso é importante que cada portador de TOC que venha a procurar ajuda médica procure entender melhor como essa doença lhe afeta e repasse isso a seu médico. Também é importante ser paciente - em ambos os sentidos - e esgotar as possíbilidade de tratamento em busca da cura estando aberto a troca de medicamentos, de dosagens, "experimentos" com os vários medicamentos anti-obsessivos existentes ou que venham a descobrir até encontrar um que ele melhor se adapte e lhe traga o melhor custo(em relação a efeitos colaterais)/benefício(melhora dos sintomas).
Já os fatores de natureza psicológica influem no surgimento, na manutenção e no agravamento dos sintomas de TOC. Quem tem TOC tende a supervalorizar a importância dos pensamentos; superestimam a própria  responsabilidade quanto a provocar desastres; são perfeccionistas; acham que podem modificar o curso futuro dos acontecimentos com a execução dos rituais. Quem tem TOC acha que tem o controle remoto do universo em suas mãos e se não executarem certinho seus rituais vão apertar o botão da morte, ou se não evitarem na forma correta tudo o que tem que evitar vão apertar o botão vermelho da "contaminação geral" e ele e todos os que ama vão contrair uma doença horrível que nem ele mesmo sabe qual é.
Os pacientes com TOC usam diversas artimanhas para aliviar a aflição e ansiedade que as obsessões lhes causam e tendem a repetir essas artimanhas mesmo sabendo que isso significa manter a doença. Eles evitam enfrentar seus medos e deixar de lado os rituais e atos mentais para confirmar que tudo isso é infundado, mesmo tendo consciencia de que isso os permitiria se livrar das compulsões.
Com isso vamos nos tornando escravos de nossos rituais. Agora entendo porque muitos invidívuos respondem parcialmente ao tratamento medicamentoso enquanto que outros respondem mais, muitas vezes alcançando a cura somente com medicamentos. Porque para muitos indivíduos o TOC é formado parte pela falta de serotonina e parte pelo vício aos rituais, pelo medo de enfrentar seus temores, pela criação rígida baseada em culpa e pecado ou mesmo pelo aprendizado e portanto influência de familiares que tem ou tiveram TOC.
Nosso cérebro é formado por bilhões de neurônios que são interligados. Cada neurônio possue várias  "entradas" vinda de outros neurônios e somente uma saída. Essas ligações vão sendo feitas e desfeitas ao longo de nossas vidas. Quando fazemos nossos rituais e com eles conseguimos alívio para as aflições que normalmente acompanham as obsessões nós "habituamos" nosso cérebro ou refazemos essas ligações de modo a sempre realizá-los quando um pensamento ou um evento trás à tona essa aflição novamente.
Para os fatores de natureza biológica só nos resta os medicamentos e para os fatores de natureza psicológica nos resta a psicoterapia. A terapia cognitivo-comportamental parte do principio que:
Exposição + Prevenção da Resposta => Habituação => Desaparecimento dos sintomas
Ela nos coloca diantes das nossas aflições (exposição) e ao deixarmos de realizar os rituais (prevenção da resposta) embora num primeiro momento a aflição aumente, em pouco tempo ela tende a diminuir até desaparecer por completo espontaneamente (habituação). Repetindo tais exercícios vamos re-organizando nosso cérebro, refazendos as ligações de modo que essa necessidade de fazer os rituais acabam por desaparecer.
Li o relato de uma amiga que com o tratamento medicamentoso e a TCC, hoje ela se sente curada. Os pensamentos invasivos algumas vezes voltam pois não temos como impedí-los de invadir nossas mentes (é díficil não pensar em macacos) mas ela sabe que eles não fazem sentido e ignorando os pensamentos eles acabam sumindo.
Como já disse anteriormente, nossa mente pode desfazer o que ela mesmo fez.

19 julho 2010

TOC quando convém

Sábado tive uma experiência inesquecível e dolorosa que vou lembrar para o resto da minha vida. Acordei as 8:00hs com uma forte dor na barriga, fui até o banheiro para fazer xixi mas me deu tontura e voltei para a cama. Fiquei deitado um pouco e fiz mais uma tentativa mas dessa vez a dor foi maior e a tontura também então voltei correndo para a cama. Engraçado que em nenhuma dessas duas vezes que levantei fiz meus rituais, a dor era tamanha que esqueci deles. Fiquei na cama até umas 9:30hs gemendo e minha esposa me falando para ir ao médico mas como já tinha tomado remédio para dor estava esperando passar (sou meio de reclamar por qualquer dorzinha mas dessa vez nem vontade de reclamar eu tinha e odeio hospitais e principalmente injeções por isso estava protelando ir). As 9:30hs a dor era tanta que aceitei até ir ao médico. Aí eu queria ir correndo, não via a hora de chegar no hospital e tomar um soro com analgésico para passar essa dor. Levantei com dificuldade e minha esposa me ajudou a trocar de roupa e fomos para o hospital, novamente não fiz meus rituais para me  trocar e sair de casa pois a dor não me deixava pensar.
Chegando no hospital voei para a recepção e queria logo entrar na salinha onde toma soro mas ainda tive que preencher meus dados, aguardar ser chamado na sala de triagem, depois aguardar o médico e finalmente fui para a salinha receber o soro. Todo esse trajeto fiz sem nem mesmo lembrar que eu tinha TOC. Na verdade por duas vezes até pensei em voltar no trajeto para "pular" uma linha no chão mas não tinha forças.
Depois do soro fui fazer um ultrassom e o médico me disse que tinha um pequeno cálculo na minha bexiga que provavelmente meu rim acabará de expelir. Caramba, pela dor eu achei que estava expelindo meu próprio rim e não apenas "um pequeno cálculo".
Finalmente aquela dor quase insuportável havia passado e agora eu tinha cabeça para pensar em meu TOC e não mais em como aliviar aquela dor que não era aliviada nem sentado, nem em pé, nem deitado, de maneira alguma. Senti necessidade de lavar as mãos, de pular os riscos no chão do hospital e até refazer alguns trechos do caminho que eu havia pulado.
Como nossa mente é interessante, o TOC tem seu lado químico provocado pela falta de serotonina no cérebro que já estou tratando a muito tempo tomando medicamento que atua na recaptação da serotonina mas tem seu lado psicológico que tenho deixado de lado e me entregado a ele. Enquanto estava com aquela dor insuportável tudo o que eu queria era me livrar dela e nem me lembrei do TOC e quando lembrava nem cogitava a idéia de ficar fazendo rituais que iriam aumentar a dor ou me atrasar para ser gentilmente picado por uma agulha que iria me injetar o alívio para aquela dor.
Se consegui agir assim por mais da metade do dia  porque não agir assim pelo resto da minha vida? Se não me fez falta fazer os rituais e nenhum pensamento ficou me perturbando durante o sábado porque assim que aliviou a dor os pensamentos voltaram e voltei com os rituais?
Acredito que as respostas estejam na terapia cognitivo-comportamental que estou começando a fazer e assim que eu as tiver postarei os progressos aqui no blog. O importante é que eu vi que é possível sim se livrar 100% dos pensamentos ou então quando os pensamentos aparecem é possível sim não se render aos rituais. É preciso passar o resto da vida com cólica renal para se livrar do TOC? Com certeza não pois descobri que existe algo pior que o TOC :). É preciso apenas reeducar sua mente e alterar seu comportamento em relação ao TOC para que vc consiga conviver com seus medos ao invés de tentar afastá-los com métodos criados por vc mesmo.
Sua mente é capaz de desfazer o que ela própria criou em relação aos seus medos, anseios e a falta de serotonina

15 julho 2010

Pare o mundo que eu quero descer

O mundo gira, o dia passa, a noite passa e outro dia começa tudo igual.  Não sei porque me esforço tanto para vencer as batalhas do dia se amanhã os mesmos obstáculos estarão no mesmo lugar me esperando.....O TOC não se cansa mas eu me canso, ontem não consegui ir trabalhar. Acordei decidido a quebrar esse ciclo vicioso, a fazer uma pausa inesperada nessa rotina alucinante que é o meu dia-a-dia para ver como meu TOC se virava ao ser pego de surpresa.
Eu vi que é bom para quem tem TOC ter o domínio da situação, ter o controle da sua vida e que a rotina e o tédio não são bons para quem tem TOC. Fiquei super bem ontem, o fato de ter quebrado a rotina, de não ter a pressão do horário para me trocar, para tomar café, para chegar ao trabalho, de não precisa lavar 128 vezes as mãos antes de sair de casa me fez bem e me animou.
Fiz o que queria na hora em que eu queria e se eu queria! Caso não quisesse fazer ou se o TOC me colocasse uma série de regras e rituais para eu seguir passava para outra atividade e antes mesmo que ele pudesse se reorganizar e criar novos rituais a atividade já estava feita. Mas infelizmente não posso fazer isso sempre e hoje subi novamente no mundo e estou girando com ele. Acordei cedo, tinha que levar o carro na concessionária para revisão mas por mais cedo que acordo nunca é o bastante para o TOC. Não tomei café para não chegar muito atrasado na concessionária e mais atrasado ainda no trabalho que ontem eu "matei" como se mata uma aula chata na faculdade. Tirei todas as coisas do carro pois hoje em dia não se pode confiar em ninguém e a cada coisa levada para dentro de casa eram os mesmos rituais (como esse TOC não se cansa de ser repetitivo), corri para a concessionária e até que o atendimento foi rápido mas o transporte para me trazer até o trabalho demorou meia hora. Fiquei ansioso esperando o transporte e enquanto isso aproveitei para tomar café na concessionária em meio a olhares para as minhas manias. O transporte não chegava, começei a fazer as cutículas com meus próprios dentes enquanto andava entre os carros e esperava o carro do transporte.
Finalmente ele chegou mais haviam mais 2 pessoas para levar antes de me deixar no trabalho. Sempre sou o último, se vou para o trabalho sou o último porque meu trabalho é o mais distante, se vou para casa também sou o último porque sou o que moro mais longe. O 1o foi deixado não longe dalí mas creio que na esquina de onde morava. O 2o nunca vi morar mais escondido, era a última rua sem saída de um bairro distante e na última casa. Os minutos passando e enfim seguimos para meu trabalho. Cheguei as 9h35, nada mal para quem nem veio trabalhar ontem né?
Não quero ser um desempregado, não quero ser um vagabundo e nem um aposentado precoçe, só quero garantia de que meu TOC não vai arruimar minha vida profissional, de que eu serei compreendido.
Só queria que o mundo parasse de vez em quando para que eu pudesse descer e aproveitar um pouco dessa paisagem linda que eu vejo passar muito rápida e apenas da janela.

13 julho 2010

Eu posso ser feliz. Eu devo!

O TOC sempre me fez acreditar que eu não podia ser feliz. Minha felicidade implicaria na infelicidade de alguém que eu amo portanto eu preferia ser infeliz do que ser o culpado pela infelicidade de alguém. Havia dias em que eu acordava atacado e ansioso e era TOC para todo lado mas havia dias em que eu me levantava tranquilo sem muita vontade psíquica de fazer os rituais. Não havia aquele sentimento forte de que eu devia voltar para abrir e fechar a porta ou que eu tinha que descer da calçada sem ter um pensamento ruim mas havia aquele sentimento de que não podia estar tudo normal, de que seria bom demais para ser verdade. Então eu fazia os rituais de costume simplesmente pelo costume de fazê-los pois havia se tornado um vício. É dificil vc largar de uma hora para outra algo que vc faz já a 20 anos e com isso eu perpetuava ainda mais meus rituais até acordar atacado novamente e aí sim, fazê-los por causa da doença.
Eu me privava de coisas que eu gostava de fazer e que me davam prazer como ouvir uma música, colocar a roupa que eu mais gostava porque eu ia sair ou então escolher na padaria a tortinha de morango (amo torta de morango) mais apetitosa. Ao invés disso eu escolhia a roupa que não me agravada muito mas que estava bom, a tortinha meio "tortinha" e sequinha ao invés daquela enorme e suculenta. Tudo isso porque eu não me permitia sentir prazer, ser feliz, eu não achava que merecia o melhor da vida.
Depois que eu descobri Jesus na minha vida e que Ele deu a Sua vida em favor da minha entendi que eu posso e devo sim ser feliz. Que graças a Jesus eu posso ter o melhor da vida e que se eu rejeitar o melhor da vida estarei rejeitando algo que Ele preparou para mim, estarei rejeitando a Sua vontade na minha vida.
Isso me ajudou e muito e cada vez que eu estava tranquilo e vinha aquele sentimento de que eu não podia ser feliz eu repetia para mim mesmo: Eu posso ser feliz, eu devo ser feliz.
É dificil vc lutar contra a sua própria mente e principalmente lutar contra algo físico que é a falta de serotonina. Para a falta de serotonina existem os remédios que suprem essa falta em seu cérebro e para falta de coragem existe a sua fé que te fortalece na luta conta sua própria mente.
Posso todas as coisas em Cristo que me fortalece ( Filipenses 4:13)
Creia que vc pode e deve ser feliz e busque sua felicidade na cura desse transtorno não deixando que essa doença mude sua vida. Veja quantas coisas vc já consquistou mesmo tendo TOC e imagina quantas coisas mais pode conquistar quando se livrar dessa doença.
A medicina tem evoluído muito em várias áreas e também no tratamento de doenças psíquicas. Para o tratamento do TOC o que tem se destacado é a medicação com antidepressivos com ação inibidora da recaptação da serotonina e a terapia cognitivo-comportamental. O medicamento ajuda na reposição da serotonina e a terapia te ajuda a lidar com os medos e anseios que o TOC causa.
A partir de hoje creia e viva essa verdade de que vc pode e deve ser feliz! :)

12 julho 2010

Animais tem TOC?

Analisando cientificamente sim, podemos dizer a priori que animais racionais (os seres humanos) tem TOC. Mas e os animais irracionais?
O TOC é causado pela falta de serotonina então os animais irracionais também poderiam desenvolver TOC uma vez que também possuem cérebro, neurônios e consequentemente o neurotransmissor "serotonina".
O TOC manifesta-se sob a forma de alterações do comportamento (rituais ou compulsões, repetições, evitações), dos pensamentos (obsessões como dúvidas, preo­cupações excessivas) e das emoções (medo, desconforto, aflição, culpa, depressão). Costumamos dizer que os cachorros se parecem com o dono, isso talvez porque os cachorros mudam seu comportamento de acordo com o comportamento de seus donos. O meu cachorro por exemplo não sabe que ele é um cachorro, sinceramente eu acho que ele pensa que nasceu de mim e da minha esposa. É verdade que ele tem um pouco de pelo a mais do que eu mas ninguém é perfeito :). Quando estamos tristes eles também ficam triste. Se estamos de cama eles ficam ali, deitado nos nossos pés até melhorarmos. Se levantamos animados eles também levantam abanando o rabo.
Muitos dizem que animais não pensam, por isso os chamamos de animais irracionais. Desse ponto de vista  não teria como os animais irracionais manifestar o TOC através dos pensamentos obsessivos mas eu discordo e não gosto de chamar muitos animais de irracionais. Um gato caça por instinto mas para cada caçada resultar em sucesso ele tem que pensar. Nenhuma caçada é igual a outra então não há como ter "pré-programado" em seu instinto uma caçada genérica que serviria para qualquer situação. Em cada caçada o gato tem que fazer cálculos de distancia da presa, velocidade, analisar as possíveis rotas de fuga da presa e por aprendizado não cometer os mesmos erros da caçada anterior. Cachorro então nem se fale, se cachorro não pensa como é que ele sonha? Como um ser irracional pode sonhar com algo que lhe traga aflição e ele começar a gemer? Como ele sonha que esta fugindo, começa a mover as patas e levanta correndo, sendo ele um ser irracional? Mito desvendado! :)
Emoções...... não consigo me conformar com alguém que diz que animais não tem emoção! Eles não somente tem emoções como eles demonstram suas emoções. Claramente voce ve quando um animal está com medo, aflito, desconfortável com alguma coisa. 
Analisando por esse prisma os animais "irracionais" podem sim demonstrar sintomas de TOC. No livro O Menino que Não Conseguia Parar de se Lavar a autora relata que um fazendeiro todo dia no mesmo horário ao entardecer recolhia seus gansos para dentro do galpão. Eles seguiam em bando, passavam em frente a janela do galpão e subiam uma escada. Um dia o fazendeiro se perdeu no horário e passou da hora de recolher seus gansos, indo recolhê-los já quase escurecendo. Ele os guiou pelo mesmo caminho, passou pela janela do galpão e ao subir as escadas um dos gansos parou, fez um som característico de quando se encontra em perigo, voltou no caminho, passou novamente pela janela e subiu as escadas. Parou e dessa vez fez um som e um movimento caracteristico de quando está tudo bem e continuou até o local onde dormia. Ela relata que ao demorar mais que o normal um dos gansos ficou "ansioso" e apresentou esse comportamento que seria do TOC.
Apesar de toda essa explanação eu não acho que os animais "irracionais" tenham TOC, pelo menos eu espero que eles não o tenham pelo bem deles pois se é sofrimento para nós imagina para eles que não podem lavar as patas toda vez que tem um pensamento ruim. E como tomar banhos demorados se muitas vezes damos apenas um banho por semana de 10 minutos? Sem falar que não podem estralar os "dedos", tocar nos postes (apenas os machos e somente para fazer xixi) e muito menos evitar os risquinhos da calçada pois se param um minutos seus donos já os puxam. Além do que se acharem que os animais tem TOC os cientistas já vão querer fazer milhões de experimentos, testar remédios nesses animais além de querer dissecar seus cérebros estando eles ainda vivos.
Melhor acreditar que não apesar que meu cachorro tem tido ultimamente um comportamento curioso que está me fazendo repensar no assunto. Nâo posso dizer que é TOC mas quando coloco ração para ele em seu pote ele começa a raspar o pote com a pata e a latir. Disseram que esse comportamento é porque eu sendo o chefe da casa deveria comer primeiro (argh) e então ele estaria liberado e que se eu mexesse na comida ele comeria. Fiz isso e nada! Eu preciso pegar a comida com as mãos umas 4-5x e oferecer a ele. Eu pego, ofereço, ele faz que vai comer mas me olha e late. Então eu devolvo a ração e pego outra porção. Faço isso umas 4-5x até que ele aceita a comer. Mesmo assim tem alguns grãos da ração que ele põe na boca e cospe. Se eu ofereço novamente esses grãos ele não come, a não ser que eu finja que joguei fora e que peguei novos grãos no pote e ofereço os mesmo aí sim ele come. Ou ele está desenvolvendo TOC ou está mudando seu comportamento para ficar igual ao dono rs.
Apesar disso meu lema não muda: Salvem os animais (com ou sem TOC).