29 julho 2010

Na mira dos olhares

No TOC nada é agradável mas não tem nada pior do que os olhares indiscretos das pessoas que estão a sua volta. Não posso dizer que me sinto como um bicho no zoológico pois os olhares das pessoas para esses animais são olhares graciosos, cativos, olhares de ternura - apesar de que eu não entendo como alguém pode sentir prazer e ainda levar os filhos para "passear" no zoológico. No meu próximo passeio vou levar meu animalzinho de estimação para passear no presídio, com direito a pipoca e bexiga.
Os olhares das pessoas para quem tem TOC e está agonizando em um de seus rituais é um olhar perverso, de curiosidade maldosa e de puro deboche. Uns disfarçam e dão olhadinhas rápidas e (in)discretas mas sem perder um só movimento ornamental desses rituais. Outros na maior "face wood", conhecida também como "cara-de-pau", fixam bem o olhar, colocam os óculos para não perder um só movimento e ainda cutucam o colega ao lado para que o mesmo desfrute dessa "comédia da vida privada" que a gente não ve todo dia.
Uma vez ao tocar o sinal para troca de aula, eu estava saindo da sala mas antes tinha que verificar embaixo da carteira se não havia esquecido nada. Abaixava e levantava várias vezes balançando a carteira num frenesi alucinante (desculpe o pleonasmo) até que ouvi uma voz grave me perguntando: Está acontecendo alguma coisa?. Parei na hora e olhei para trás e meu professor estava me observando - nem quero saber a quanto tempo - e agora aguardava uma justificativa para tal atitude que muitos considerariam insana porém eu a classificaria como heróica pois não é qualquer um que topa "pagar um gorila" desses para salvar vidas. Para isso é preciso ter peito, ou TOC.
Os mesmo neurônios que antes estavam com problemas de comunicação devido a baixa serotonina agora se uniam para criar uma desculpa criativa e convincente: - Estou verificando e essa carteira parece estar mal parafusada pois balança muito quando mexemos nela. O professor ainda me agradeceu por essa observação.
Aqui no meu trabalho ficamos em baias - sim, apesar de não sermos cavalos nos posicionamos em baias - com 4 pessoas cada e para chegar até minha baia preciso passar pela 1a baia onde sentam dois colegas, um de cada lado da passagem. No princípio pensei se tratar de dois gayzinhos apaixonados devido à troca de olhares e sorrisos entre eles cada vez que eu passava e estava até achando lindo isso mas "a ficha caiu" e vi que era o meu ritual para entrar e sair da baia que despertava esse sentimento entre eles.
Que bom se todos continuasse com seus trabalhos ou apenas olhasse como se aquela fosse uma cena do cotidiano mas não é assim que acontece. O que devo fazer então? Esconder-me de todos? Não sair de casa? Parar meu ritual, esperar que todos voltem às suas posições e então continuar? Acho que nada disso seria saudável para mim então simplesmente sigo em frente, continuo com o que estou fazendo e dane-se os olhares e as pessoas que acham graça de algo que nem sabem o que é.
Perdoem o humor ácido e o pouco valor instrutivo desse post mas é que as vezes eu penso que se todo mundo cuidasse da sua própria vida assim como cuida da vida alheia os planos de saúde iriam à falência e não haveria fila no SUS.

2 comentários:

  1. Boa noite Junior...eu concordo plenamente com vc...sabe aquele dia que passei mal,e postei no blog?
    Entao...as pessoas ficavam me olhando e ate me rodeavam...eu me senti pior ainda...as pessoas riem dagente sim...me lembro que no curso que fiz,um dia eu tava dando as voltinhas nas pessoas rs qdo estamos parados conversando(tenho que andar em circulo,como se tivesse criando uma pelicula protetora rsrsrs)ai,pronto..."começou,a doida o...mas e tonta...minha prima e uma amiga diziam...e o dia em que eu tive q rodear a sala td pq tinha algo me dizendo que o chao poderia rachar...forao dia q eu fiquei pra tras na loja de brinquedos que fomos eu, meu marido e minha filha...fiquei pra tras pra arrumar o tapete da porta q estava torto...entao...claro que teve olhares ne...eu tenho certeza...mas e assim mesmo meu amigo...so que a maioria das pessoas sao cheias de manias...talvez ate piores que as nossas...mas nao tem coragem de dizer...essas pessoas sao as q mais prestam atençao na nossa vida...e qto ao trabalho,confie em Deus...entregue td nas maos dele...eu nao sou evangelica,mas creio sim em Deus...se nao fosse ele ne?!?
    Viva cada dia de uma vez...hj sabendo que muitas pessoas tem esse mesmo problema nosso...vc viu so a Monica...ela percebeu que as "manias"que ela tem nao sao so manias...isso pq eu decidi abrir o jogo no meu blog,e na minha vida(pois escondia de tds,menos da minha prima(Gisele)que sempre me adverteu sobre isso e eu nunca dei ouvidos...e tbem depois que leu seu blog,e se identificou mto...isso deve nos deixar bem,sabendo que esta ajudando outras pessoas,e nos ajudando tbem...entao meu amigo,entregue td nas maos de Deus...ele sempre sabe o que e nosso.
    Bjs e lindo fim de semana!!!
    Debora

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  2. Até estarmos em uma sociedade que tenha mais conhecimento dos transtornos psíquicos é interessante ter bastante artimanha como no exemplo do júnior na sala de aula com o professor. Infelizmente, ainda há muita desinformação.

    Abraço pra todos

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