A descoberta do TOC e o tratamento

Depois de 20 anos sofrendo sozinho com o TOC e 2 tentativas frustadas de procurar ajuda minha familia insistiu muito que eu procurasse um psquiatra. Um tio meu que também tinha "manias" (deve ter sido diagnosticado como TOC mas nunca contou nada a ninguém) foi nesse psiquiatra e conseguiu melhorar muito então resolvi ir também.
Em 2000 procurei esse psiquiatra e marquei uma consulta. Ele me chamou na sala e perguntou o que me afligia. Era dificil falar sobre o que me afligia porque tudo relacionado ao TOC me afligia então resolvi começar contar algumas de minhas "manias". Com um nó na garganta fui relatando meu dia, entre lágrimas fui contanto as coisas que eu fazia e os "tiques" que eu tinha e o psiquiatra foi me ouvindo, me olhando como se eu não estivesse contando nada demais, como se aquilo fosse a descrição de sintomas de gripe, uma coisa banal.
Isso foi me dando confiança e ele me deu um trecho de um livro para ler que descrevia algumas "manias" como: lavar as mãos, "mania" de simetria, pensamentos, etc e pediu para que eu lhe apontasse em quais descrições eu me encaixava. Das 10 descrições eu me encaixava em 9 delas. Ele perguntou se isso consumia mais do que 1h do meu dia e eu disse que consumia umas 4-5hs do meu dia.
Com ar sereno ele me disse que eu tinha TOC - Transtorno Obsessivo-Compulsivo - e me explicou o que era isso, o que poderia ter levado ao TOC, mostrou livros, explicou sobre serotonina, sinapse, qual o "problema" no cérebro que faz com que eu tenha esses pensamentos, esses "rituais" que na verdade se chama obsessões e fui tirando o nó da garganta, enxugando as lágrimas do rosto e compreendendo que o que eu fazia era devido a uma doença, na verdade um transtorno que ataca mais pessoas do que imaginamos e que eu não tinha do que me envergonhar.
Explicou-me o tratamento, como funciona, me indicou a leitura do livro O Menino Que Não Conseguia Parar De Se Lavar que explica sobre o TOC e me deixou seguro para iniciar o tratamento e curioso sobre essa doença.
 Começei o tratamento com fluoxetina, com uma dose pequena e após 15 dias já sentia uma diferença. Alternei algumas fases em que sentia uma melhora de 90% e outras em que piorava 50% em relação a quando não tomava remédio. Aumentamos a dose mas começei a ter uma irritabilidade, ser uma pessoa nervosa coisa que eu nunca fui e ele me explicou que é um dos efeitos colaterais da fluoxetina em alguns pacientes. Como não podia mais continuar com a fluoxetina trocamos para a clomipramina.
Começei a me sentir melhor com a clomipramina e fomos aumentando a dose aos poucos e também associando a clomipramina com outros anti-depressivos com ação nos recaptadores de serotonida tipo: Setralina, Paroxetina, fluvoxamina e com o tempo vimos que o medicamento que eu me adaptava melhor era a clomipramina.
Fomos aumentando a dose até me sentir confortável e com o passar dos anos fomos diminuindo a dose até chegar na dose de manutenção, a dose mínima na qual eu me sentia bem. Passaram-se anos nessa troca de medicamento, aumento de dosagem até chegar na dose de manutenção mas desde o 1o mes de tratamento era notável a minha mudança, minha melhora em relação à doença. Não eliminei por completo meus rituais, ainda tenho TOC, ainda faço alguns rituais e pensamentos invasivos ainda me pertubam mas minha qualidade de vida melhorou muito!!! Antes eu perdia 4-5hs por dia nesses rituais e hoje acredito que não chega a 1h por dia que eu gasto com isso.
Cada pessoa é uma pessoa individual, com respostas individuais a tudo, por isso somos classificados como indivíduos. O que funciona para um pode não funcionar para outro e vice-versa. A resposta de alguns ao tratamento é diferente que a resposta de outros por isso é importante procurar um médico sério, procurar entender a doença e estar disposto a tentar os diversos tipos de medicamentos até que encontre aquele medicamento e sua dosagem ideal que lhe ofereça a maior melhora possível.
Outros tratamentos concomitantes para tratar os efeitos do TOC também são bem-vindos. Tratamentos com homeopatia, terapia cognitiva-comportamental, desabafos, blogs, etc :)
A medicina tem evoluído muito, muitas coisas tem sido descobertas e nada melhor do que a troca de informações e experiencias.
Espero que com a minha estória eu possa ter esclarecido muitas coisas para aqueles que se sentiam confusos, ter trazido uma esperança à aqueles que achavam que sua doença nao tinha cura e incentivados aqueles que até hoje não procuraram tratamento ou que nunca falaram sobre sua doença que o faça.
Toda ajuda é bem-vinda para melhorar esse blog e ajudar um número cada vez maior de "irmãos" que sofrem do mesmo mal.
Abraços,
Junior